‘’No meio do caminho tinha
uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho’’
tinha uma pedra no meio do caminho’’
(Carlos Drummond de Andrade)
Quando eu era criança tinha o costume de procurar
pedras coloridas nas areias que tinham em casa quando estávamos fazendo alguma
reforma. Eu me divertia por horas
enfiando o braço e cavando a areia úmida até encontrar diversas pedras dos mais
variados formatos e tamanhos. Quando conseguia juntar uma boa quantia de
pedras, saia correndo pelo quintal a procura de minha mãe para lhe mostrar
minha grande descoberta:
- Mãe, olha só, a areia está cheia de pedras
preciosas!
Minha mãe, cheia de paciência com as minhas descobertas
de todo dia, respondia:
- Não, filha! São apenas pedrinhas coloridas.
Elas têm a cor diferente, mas só são pedras comuns. A maioria das areias possui
várias dessas pedras!
E eu abaixava a cabeça e ficava olhando para as
pequenas preciosidades na palma de minha mão com um olhar de tristeza. Saia de
dentro de casa e ia de novo para a areia. Não podia ser verdade! Aquelas pedras
eram preciosas, sim! Então, ficava sentada em cima da areia que já começava a
cheirar coco de gato, pensando que minha mãe não entendia nada de pedras
preciosas.
Então, eu entrava de novo dentro de casa, pegava
um potinho e guardava com carinho todas aquelas pedrinhas. Para mim elas eram
preciosas fosse a realidade essa ou não. Elas eram diferentes, nunca tinha
visto pedras parecidas, portanto elas não podiam ser qualquer coisa!
Hoje, depois de crescida, sempre lembro esses
episódios normais da infância e bate aquela saudade gostosa daquele tempinho
onde tudo eram flores, ou melhor, pedras coloridas. Bate uma falta imensa
daquela capacidade de enxergar beleza nas coisas simples da vida e saber
encontrá-las nas coisas mais fáceis e corriqueiras. Perdemos tanto tempo de
nossa existência para compreender que a felicidade não está apenas nos grandes
acontecimentos. Ela está ali, quietinha, guardadinha em sua simplicidade,
talvez no fundo da areia úmida do coração.
Decidi que quero ser como a menina que fui um
dia: procurar minhas pedrinhas preciosas e guardá-las dentro de um potinho para
nunca perdê-las. Quero encontrar minhas pequenas alegrias, aproveitá-las,
curti-las e depois guardá-las dentro de um lugarzinho só meu para que eu nunca
mais as perca de vista.
Quero ter olhos infantis para enxergar o valor
das coisas simples e a beleza que ninguém parece perceber. É bom estar vivo!
Mas ninguém parece mais notar a preciosidade da vida.
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