Dia que vem, noite que vai. Hábito que vem, rotina que vai. Sonho mal despertado, amor não interpretado, medo assombrado, coração atrapalhado. Decepção que amanheceu ainda do mesmo lado. Desejos ocultos ainda calados. O travesseiro não comporta mais a grandeza do meu ser. O mundo não suporta minha eterna pequenez. Não tenho onde encostar. Só me resta esperar...
A poesia, menina má, as vezes quer ir embora, fugir desse infortúnio que é morar em um peito turbulento como o meu! Mas eu, que não aceito gente fujona, seguro ela pela gola e a obrigo a se sentar para termos aquela antiga conversa sobre onde é o lugar de quem. Ela, a poesia, vem me falar toda brava que eu a deixei de lado, que não penso mais nela como antigamente. E não é que a bandida tem faro? Mas a verdade é que eu amo essa ingrata, quero ela morando dentro de mim, dançando, desfilando e colocando para o mundo tudo o que ela mesma cultiva dentro de mim. Vencida, então, digo que a amo. Peço perdão, fico de joelhos e prometo flores rosas toda noite como prova da minha remissão. Ela, coitadinha, sem muita escolha, aceita o que tenho a lhe oferecer. E jeitosamente se aconchega no meu coração, diz que também me ama e que nunca iria embora de verdade. Eu sei que ela nunca vai me deixar porque nunca vou deixar que ela me escape. Vou trancá-la para sempre no peito e deixar que adormeça. Mas hora ou outra, quando ela quiser acordar, vou deixar que me use e coloque em palavras tudo o que ela faz comigo!