terça-feira, 21 de junho de 2016

Resenha: Chão de vento (Flora Figueiredo) - Poesia com essência

Recentemente, encontrei na rua alguns livros e no meio deles estava esse de que vou falar: Chão de vento, de Flora Figueiredo. Essa minha edição tem o selo do Governo do Estado de São Paulo, o que significa que é um livro que foi dado para a leitura dos alunos de escolas públicas. Então, para quem ganhou esse livro e o tem em casa, só digo uma coisa: LEIAM! 
Trata-se de um livro de poemas com teor cotidiano, de leitura fácil e rápida (li em menos de uma hora), linguagem leve, bonita e com um encanto na escrita que está destinado apenas as pessoas extremamente sensíveis a poesia e a beleza do mundo. O próprio nome da obra já nos sugere uma sensível simplicidade: Chão de vento.
Percebe-se que a autora usa de sua própria poesia para desnudar-se, mostrar ao mundo como é sua alma, pensamentos e desejos mais íntimos, mas que muitas vezes coincidem muito com a maioria dos sentimentos alheios. Pelo menos, posso dizer que foi assim minha experiência com essa leitura. Flora não usa linguagem rebuscada, não fala por metáforas, ela apenas se coloca como uma pessoa comum, vivenciando um dia-a-dia comum, mas com um olhar contemplativo que só cabe aos poetas. De todos os poemas do livro, posso dizer que gostei de todos igualmente e me identifiquei com a maioria deles, pois poemas como esses são capazes de nos fazer abrir os olhos e enxergar o que realmente importa na nossa realidade: as coisas simples! Flora parece querer mostrar (e consegue) que o cotidiano está repleto de acontecimentos incríveis e que sempre podemos enfeitá-lo mais um pouquinho. Na sinopse do livro está escrito que a autora foi elogiada por Caio Fernando Abreu e Ferreira Gullar, acho que não preciso dizer mais nada! Abaixo, dois poemas retirados do livro:

Motim

Estou de saída
e que ninguém me siga.
Quero falar sozinha,
chutar a sombra,
cuspir no prato.
Rasgar a censura,
perverter a seita,
maldizer o gato.
Reduzir a etiqueta a pedacinhos,
desembarcar onde o lugar é descaminho,
esquecer o bicho em extinção.
Sem pedir permissão 
quero ficar comigo
e, se for necessário, me ponho de castigo.

Bom-senso

Hoje não vou,
que é dia ruim de decisão:
o ninho apareceu cheio de ovos,
o vaso me presenteou com botões novos,
a lua fez alongamentos verdes sobre o mar.
Dia de emoção não é dia de ir.
Quem sabe amanhã amanhece chovendo
e eu fico matemática. 





Obs: Muito obrigada a pessoa que jogou os livros no lixo, pois sem ela eu não teria encontrado esse belo livro! haha :)