terça-feira, 14 de abril de 2015

As pedras coloridas

‘’No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho’’
(Carlos Drummond de Andrade)

Quando eu era criança tinha o costume de procurar pedras coloridas nas areias que tinham em casa quando estávamos fazendo alguma reforma.  Eu me divertia por horas enfiando o braço e cavando a areia úmida até encontrar diversas pedras dos mais variados formatos e tamanhos. Quando conseguia juntar uma boa quantia de pedras, saia correndo pelo quintal a procura de minha mãe para lhe mostrar minha grande descoberta:
- Mãe, olha só, a areia está cheia de pedras preciosas!
Minha mãe, cheia de paciência com as minhas descobertas de todo dia, respondia:
- Não, filha! São apenas pedrinhas coloridas. Elas têm a cor diferente, mas só são pedras comuns. A maioria das areias possui várias dessas pedras!
E eu abaixava a cabeça e ficava olhando para as pequenas preciosidades na palma de minha mão com um olhar de tristeza. Saia de dentro de casa e ia de novo para a areia. Não podia ser verdade! Aquelas pedras eram preciosas, sim! Então, ficava sentada em cima da areia que já começava a cheirar coco de gato, pensando que minha mãe não entendia nada de pedras preciosas.
Então, eu entrava de novo dentro de casa, pegava um potinho e guardava com carinho todas aquelas pedrinhas. Para mim elas eram preciosas fosse a realidade essa ou não. Elas eram diferentes, nunca tinha visto pedras parecidas, portanto elas não podiam ser qualquer coisa!
Hoje, depois de crescida, sempre lembro esses episódios normais da infância e bate aquela saudade gostosa daquele tempinho onde tudo eram flores, ou melhor, pedras coloridas. Bate uma falta imensa daquela capacidade de enxergar beleza nas coisas simples da vida e saber encontrá-las nas coisas mais fáceis e corriqueiras. Perdemos tanto tempo de nossa existência para compreender que a felicidade não está apenas nos grandes acontecimentos. Ela está ali, quietinha, guardadinha em sua simplicidade, talvez no fundo da areia úmida do coração.
Decidi que quero ser como a menina que fui um dia: procurar minhas pedrinhas preciosas e guardá-las dentro de um potinho para nunca perdê-las. Quero encontrar minhas pequenas alegrias, aproveitá-las, curti-las e depois guardá-las dentro de um lugarzinho só meu para que eu nunca mais as perca de vista.
Quero ter olhos infantis para enxergar o valor das coisas simples e a beleza que ninguém parece perceber. É bom estar vivo! Mas ninguém parece mais notar a preciosidade da vida.



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