sábado, 30 de agosto de 2014

Uma luz

Quero a capacidade de enxergar
o lado mais belo e sublime 
de todas as coisas
que por vezes me fazem chorar.

Tenho olhos que enxergam  
sempre o pior lado.
E meu coração e espírito
se esquecem de agradecer
pela bondade que carregam.

Durmo pensando que quero mudar,
acordo sem ação,
reclamando da razão
e da cerração 
que meus olhos marrons
não conseguem tolerar.

Meus pensamentos se reviram
e se contorcem
tentando encontrar um caminho,
um sentido,
que me faça escutar a canção mais bela
que meus ouvidos já ouviram.

Procuro sem cessar por uma resposta,
uma porta,
uma luz,
de preferência no início do túnel 
que me encoraje a ganhar da vida
aceitando sem luta a sua mais difícil proposta.

Por: Miriã Pinheiro

Abandonei...

Em algumas horas, sou quase toda tomada de uma saudade insana de algo que não sei dizer exatamente o que é. Talvez seja saudade de algum vento macio que um dia bagunçou meus cabelos ou das gotas de um chuvisqueiro charmoso e geladinho que um dia escorreu no meu rosto. Desde que, como dizem por aí, entendo-me por gente, sempre me senti ou me achei um pouco estranha. Mas não é estranha no sentido ruim, mas talvez também não seja para o bom sentido. Ser estranho nem sempre é elogio, porque ninguém gosta muito de receber tão simplista adjetivo. 
As vezes, quando decido que vou usar algum perfume que há muito não uso, logo na primeira esguichada do líquido, já começam a dançar mil lembranças em minha mente. Lembranças do que fiz e onde estive, tendo aquele perfume como ''trilha aromática''. Imediatamente fico possessa de uma sensação que não sou capaz de explicar se é boa ou ruim. Ao mesmo tempo bate aquela alegria em reviver rapidamente alguns momentos bons e de repente, quase simultaneamente, bate uma leve depressão por saber que tudo aquilo já passou e nunca mais vai voltar. Você pode até fazer as mesmas coisas, mas aquele momento é aquele momento e este é insubstituível. E o que acho mais estranho em mim não é a sensação que acabei de descrever, até porque tenho certeza que uma ou outra pessoa deve saber do que estou falando. Mas sim o fato de ter abandonado muitas roupas, perfumes, bolsas, sapatos e ideias, artigos antes tão usados e amados, que hoje me causam uma sensação mista entre repulsa e carinho. Algumas roupas parecem me levar para lugares que não faço mais questão de estar. Alguns sapatos me levam de volta ao caminho de pessoas que jurei que nunca mais passaria perto. E alguns perfumes me trazem cheiros de uma antiga esperança que outrora se misturou à indiferença. Algumas ideias também já foram deixadas de lado para dar espaço às novas e nunca pensadas. Tenho quartos escuros e abandonados dentro de mim. Carrego gavetas secretas,  trancadas e uma sujeirinha aqui e outra ali. Sou transporte principal de emoções e sentimentos. Possuo uma carga incontável de sensações e pensamentos. Mas apesar de tudo isso, tenho tido uma única certeza: em certas coisas, não faço mais questão de mexer.

Por: Miriã Pinheiro

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Música da sexta

A música que escolhi para hoje é da banda de hard rock chamada Cinderella. Não, não é uma personagem de conto de fadas, é mesmo uma banda de hard rock surgida nos anos 80 que foi descoberta pelo cantor Bon Jovi. Por incrível que pareça, foi uma das poucas bandas que permaneceram até o início da década de 90, quando a MTV praticamente expulsou a banda de seus arquivos, parando de tocar as músicas, alegando estar ''fora de época''. A banda começou sua carreira abrindo shows de bandas como AC/DC. Ainda hoje, há sites que dizem que a banda pode lançar um álbum de estúdio a qualquer momento.
A música selecionada se chama Don't know what you got (Till it´s gone) e foi lançada no ano de 1988 no álbum Long Cold Winter. A canção possui uma letra belíssima e um clipe muito legal e harmônico. A voz do vocalista é muito rouca e bem no estilo hard rock, o que deixa a música ainda mais bonita e aconchegante. Confiram.

Clique aqui para ler a tradução



quinta-feira, 28 de agosto de 2014

2014: Centenário de Augusto dos Anjos

Esses dias, lendo sobre algumas curiosidades do ano, descobri que 2014 é o ano de comemoração do centenário da morte do poeta Augusto dos Anjos, que faleceu no dia 12 de novembro de 1914.
Augusto dos Anjos era paraibano e aprendeu as primeiras letras em casa, com o seu próprio pai. Mais tarde fez o curso secundário e formou-se advogado, mas não chegou a advogar. Vivia apenas de ensinar Português e lecionava no Liceu Paraibano. Depois de alguns desentendimentos com o governador, foi afastado do cargo de professor e acabou se mudando para o Rio de Janeiro, com o intuito de seguir o magistério.  No Rio, lecionou em diversos lugares, mas nunca conseguiu se efetivar como professor. Em 1911, morre prematuramente o seu primeiro filho com Ester Fialho, com quem casou-se em 1910. Depois, no final 1913, muda-se para Minas Gerais e assume a direção de um grupo escolar, além de continuar dando aulas particulares. 
Augusto dos Anjos possui um único livro, chamado de ''Eu'', que foi publicado em 1912. O livro possui aspectos parnasianos e também alguns traços simbolistas. No entanto, esse livro foi praticamente ignorado e criticado pelo público da época, já que fala sobre morte, podridão e os limites do corpo humano. O livro só conseguiu alcançar novas edições, graças a Órris Soares, que era amigo e biógrafo do autor. 
Para o poeta, as coisas naturais causam nojo e o amor se transforma em ódio. Augusto dizia que nunca conseguiu ser capaz de amar uma mulher e sua obra faz uma anulação de sua própria pessoa e mostra o seu desejo de conhecer outros mundos e outras forças, onde não haja a ação da natureza, que tudo transforma em pó. 
O livro ''Eu'' deixou de lado os assuntos belos e comuns, para usar um vocabulário científico e não usado na poesia. Com o tempo, Augusto dos Anjos, tornou-se um dos poetas mais lidos do Brasil, sobrevivendo às críticas e ganhando um pouco mais da aceitação popular. O poeta faleceu com apenas trinta anos de idade, vitimado pela pneumonia. 
A seguir, deixo um dos poemas mais famosos e comentados de Augusto dos Anjos. E claro, sou suspeita de falar que é um dos meus preferidos.

Psicologia de um vencido  

Eu, filho do carbono e do amoníaco, 
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas 
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra! 

Repare que o poema é construído na forma de soneto (2 quartetos e 2 tercetos) e com certeza, mais pessimista do que isto, só dois disto!
Uma frase famosa, que já vi diversas pessoas mencionarem sem nem sequer imaginar de que é um verso de Augusto dos Anjos é: ''Ai! Um urubu pousou na minha sorte.''
Hoje, se formos analisar, uma pessoa com comportamento parecido ao de Augusto dos Anjos, só poderia sofrer de algum distúrbio psicológico e é claro que existem relatos sobre essa possibilidade. O poeta era uma pessoa nervosa e pessimista, sem muita perspectiva de vida, talvez por causa de decepções na carreira e na infância ou até mesmo pela morte do filho. Porém, é impossível negar que seus escritos possuem algo de exclusivo e impactante, provocando reflexões sobre a vida, a morte, o trabalho da natureza e até mesmo a análise comportamental de uma pessoa que se encontra sem objetivos.
Augusto dos Anjos, apesar de não ter tido seu talento reconhecido em vida, deixou um legado de poemas diferentes e complexos no seu único livro: ''Eu e outras poesias'', além de ter o seu lugar garantido no estudo e na leitura da nossa Literatura Brasileira.

Por: Miriã Pinheiro




quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Só quero viver

Eu só quero viver.
Não quero saber se sou baixa, cheia,
despretensiosa, inteligente, bonita ou feia.

Quero apenas viver
e aprender e correr
para não perder a hora de ser feliz
ou de tentar ser o que eu sempre quis.

Com rima ou sem rima,
medo ou coragem,
quero vencer e conseguir.
Palavras de mal agouro não quero ouvir.

Não nasci para esportes,
não sei brincar de viver e de seguir.
Chuva foi feita para molhar
e beijos são feitos de amar.

Não perco mais tempo com rancor,
quero ver nascer outro dia
e me lembrar de que o coração
ainda hoje me sorria.

Por: Miriã Pinheiro







terça-feira, 26 de agosto de 2014

A persistência da memória

Nomeio persistência da memória
essa ânsia indefinida de querer saber o futuro,
entender o passado e atravessar o presente,
tendo na mente o pensamento de um maduro.

Em minha alma escorrem relógios
de horas confusas, indefinidas e remotas.
Pousam moscas em minhas certezas
e minhas belezas, são músicas sem notas.

Presa em um enorme labirinto surrealista,
vejo cores fortes e marcantes,
como se um dia eu já houvesse sonhado
ou talvez pensado nisso antes.



O quadro apresentado acima é uma obra de Salvador Dali e é denominado de ''A persistência da memória''. Salvador Dali é considerado a maior influência do Surrealismo nas artes. O Surrealismo é uma das vanguardas europeias e suas obras possuem traços e aspectos oníricos, isto é, relacionados aos sonhos. Na maioria das vezes, quando sonhamos, não nos lembramos exatamente dos elementos, objetos e pessoas e por isso fazemos uma confusão em nossa mente. No geral, os sonhos são compostos por elementos confusos e de diversas naturezas, das quais nem sempre temos conhecimento. E é exatamente isso que o Surrealismo visa retratar em suas obras: aspectos surreais com fundo onírico. 
Alguns estudos relatam que a obra ''A persistência da memória'' tem o poder de ficar gravada em nossa memória. Segundo o próprio pintor, Salvador Dali, as cores e formas do quadro foram usadas com o intuito de ficarem registradas na memória logo na primeira observação.
Há diversas interpretações para o quadro citado e uma delas é sobre a relatividade do tempo e sua forma maleável de existir. Ao observarmos os detalhes, como a mosca que está pousada no primeiro relógio situado à esquerda, poderemos chegar a inúmeras interpretações e uma delas é sobre a passagem rápida do tempo (ele voa).
Segundo o pintor, a inspiração para essa obra veio enquanto saboreava e observava um queijo.

Por: Miriã Pinheiro

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O caminho da praia

Ana caminhava na praia deserta,
sentia a areia quente debaixo dos pés
e vez ou outra a água fria do mar
batia e voltava, como se sentisse pressa em seguir seu percurso.
E ela olhava para os lados 
e ao longe via índios
bravos, morenos, belos e serenos.
Pareciam viver tão bem
e não aparentavam vontade de conhecer qualquer civilização.
As ordem eram obedecidas, as crianças educadas, 
as mulheres trabalhadeiras e os homens valentes e corajosos.
Caçavam, plantavam, casavam-se entre si e ninguém reclamava de nada.
A praia deserta ficava abandonada e ninguém se preocupava com a história do lugar.
Diziam apenas que era uma praia que ninguém mais se interessava em ir,
era um lugar apenas para descansar ou refletir, mas nunca para diversão.
E Ana caminhava  e a floresta de mata virgem e verde que via ao longe
nada mais era do que um caminho alternativo, mas pouco usado, para a praia que estava.
E chegou perto da mata, tocou as folhas de algumas árvores, 
admirou flores até então nunca vistas por ela.
Reparou na altura das árvores e no verde casto de matos ainda intocados.
E o verde foi desaparecendo, as árvores foram sumindo, uma a uma sendo derrubadas.
A terra, antes macia e vermelha, ficou seca, áspera e poeirenta.
As flores diferentes haviam sumido e não havia pássaros por ali.
Tudo era apenas uma estrada de terra batida e sem graça como qualquer outra.
Não havia mais índios, só carros que atravessavam a estrada
em velocidade suficiente para que as pessoas não tivessem tempo de pensar
por qual lugar estavam passando!
Ana viu o passado e o presente em alguns minutos
enquanto passeava sem compromisso em uma praia deserta.
Teve consciência do chão que estava pisando
e a vergonha de ser civilizada, invadiu cada partícula do seu ser juvenil.
Ana soube que um dia, assim como aqueles índios, ela também seria passado
e aquele lugar, um dia, estaria pior do que estava agora.
Por um instante, Ana soube de que ela não era o mundo
e que nem o mundo estava nela.
O mundo era apenas o mundo
e o mundo passa, 
e o mundo muda!

Por: Miriã Pinheiro

A natureza da vida

A vida é uma rosa vermelha de espinhos dourados,
tentar tirá-los seria um desrespeito
com tamanha beleza disfarçada de perigo.

O mundo é uma grande roda azul
que nos mostra pela natureza
que nada somos além de um punhado de terra com formato de gente.

E o mundo gira e a vida segue.
A noite chega, o dia amanhece
e a tarde deixa que o céu nos aqueça com o sol
ou conceda a chuva que nos lava o interior.

De noite a lua tímida dá as caras,
brancas faces sem pretensão
que esbanja beleza e formas
sem se sentir superior aos outros astros.

E o dia segue seu ciclo,
e a vida segue seu ritmo.
A alegria pode as vezes trazer a dor,
mas a dor sempre poderá, quem sabe, trazer alegria.

Por: Miriã Pinheiro

domingo, 24 de agosto de 2014

Poesia: O que é Acróstico?

A palavra com o nome do tema em questão é pouco usada mas não deixa de ter um significado bem conhecido. Acróstico? O que é? Nunca vi, nem comi, eu só ouço falar! Pois é, a grande maioria das pessoas pensaria dessa maneira após ler tal palavra tão diferente e raríssimas vezes ouvida. Acróstico? Será algum tipo de salgado frito ou assado? A resposta, obviamente, é não!
Acróstico nada mais é do que uma poesia ou qualquer outra estrutura textual onde a primeira letra de cada verso (ou frase) é parte integrante de uma palavra ou frase escrita na vertical. Pode ser uma única palavra isolada ou várias palavras juntas produzindo um sentido. A questão é que você, mesmo que não esteja entendendo nada, compôs pelo menos um acróstico na vida. Embora seja considerado uma forma de texto ou poesia e tenha um nome um tanto exótico para os ouvidos não muito familiarizados com o mundo poético, o acróstico pode ser um belo motivo para brincadeiras de crianças ou uma forma didática de convencê-las a ler poesias. Abaixo, construí um exemplo bem simples de acróstico.

Minha linda
Amada, doce e gentil
Recatada em modos
Inocente donzela tímida
Amar-te-ei mais com o passar dos anos.

Repare que a estrofe fala sobre uma moça chamada Maria e o nome da mesma está escrito em vertical com cada letra sendo a primeira de cada verso. Isso é um acróstico. 
Agora, vou deixar como exemplo a canção intitulada ''Acróstico'', do cantor Roberto Carlos, feita em homenagem a sua até então mulher Maria Rita, a belíssima e talentosa cantora, filha da extinta Elis Regina.

Acróstico

Mais que a minha própria vida
Além do que eu sonhei pra mim
Raio de luz
Inspiração
Amor você é assim
Rima dos versos que eu canto
Imenso amor que eu falo tanto
Tudo pra mim
Amo você assim

Meu coração 
Eternamente
Um dia eu te entreguei

Amo você
Mais do que tudo eu sei
O sol
Raiou pra mim quando eu te encontrei

Por: Miriã Pinheiro



sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Procurando

Procurando a felicidade
em um despertar tranquilo
ou em um adormecer cansado,
exausto dos pesos dessa vida.

Procurando sorrisos em espelhos,
algumas vezes falsos, sacanas e reprodutores
de uma beleza que não enobrece
e que com a alma, não se parece.

Tentando encontrar a resposta
de uma pergunta antiga e sem propósito.
Sigo enganando a ansiedade
e por ela me tornando indiferente.

Passos firmes, mas sem certeza!
Razão, emoção e confusão
formam em mim uma roda gigante
que gira aos trancos e me leva adiante.

Por: Miriã Pinheiro


Música da Sexta

Toda sexta-feira quero dedicar um tempinho e um espaço para falar um pouco sobre alguma música. Não importa o estilo ou a época, desde que seja uma música com ritmo e letra poética (para combinar com o blog). 
A música que escolhi para hoje é da cantora Martika e foi lançada no ano de 1988. Com certeza, pouca gente já ouviu falar o nome desta cantora, até mesmo aqueles que são apaixonados por músicas antigas não se lembraram de nada com esse nome. E isso acontece porque Martika não fez tanto sucesso, embora cante até hoje. Toy Soldiers, a música escolhida, foi o que lançou a cantora no mercado e é o seu hit de maior sucesso. 
O rapper Eminem até lançou uma música de significado muito marcante chamada Like Toy Soldiers, que contém o refrão da música original de Martika.
Quando eu era criança e escutava essa música, podia quase jurar de que ela falasse sobre guerras e seus vencedores. Até porque o nome Toy Soldiers (Soldados de brinquedo) é bem sugestivo para essa situação, mas tive uma surpresa quando passei a compreender um pouquinho melhor o Inglês e quando conheci a tradução da música. A canção, na verdade, fala sobre arrependimento no amor.
Boa música!

Clique para ler a tradução


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Compartilhando lamentos

Assim que dei o meu primeiro suspiro de vida nessa Terra rodopiante e mal-habitada, passei a dar o melhor de mim em cada ação que vou praticar. Não adianta, nasci assim e fazer as coisas de qualquer jeito nunca funcionou muito comigo. Não sei empurrar com a barriga situações catastróficas, levar a vida aos trancos e barrancos ou simplesmente fingir que não estou percebendo um desastre logo em breve. Em tudo o que vou fazer, tento depositar todas as minhas forças físicas e intelectuais, tomando conta de cada mínimo detalhe do campo que estou compenetrada. Deve ser por isso que fico cansada com uma rapidez inexplicável! Minhas ações exigem de mim o máximo de atenção possível, esgotando até a última gota da garrafa rasa das minhas forças. 
Quando vou tomar um banho, por exemplo, não sei entrar no banheiro e sair correndo como se fosse um gato com medo de água. Eu realmente estou debaixo do chuveiro para me molhar, portanto só saio de lá quando o serviço estiver muito bem feito. É claro que não se pode comparar a vida com banhos femininos. Mas tudo o que faço, é feito com a maior intensidade do meu ser, até mesmo os atos mais simples e cotidianos. O meu melhor está sempre por aí, contido em enorme quantidade nas palavras que digo e escrevo, nas pessoas com quem converso, nos trabalhos que realizo fora ou dentro de casa e nos sorrisos que distribuo pelas ruas da cidade. Reconheço também que o meu melhor, é apenas o melhor para mim e não o melhor para o mundo ou ''o melhor do mundo''. O máximo para mim, pode ser equivalente a um pedaço de graveto queimado para você e aceito essa condição com a maior tranquilidade.
Por isso, decidi que não vou mais me recriminar ou menosprezar, como se fosse uma juíza cruel e sem escrúpulos. Tudo o que fiz foi de verdade. Tudo o que disse foi sincero. Se o resultado foi surpreendente ou decepcionante, nunca terei o desgosto de afirmar que foi por falta de vontade. O meu melhor me custou caro, o meu esforço era tudo o que eu tinha... Não vou tolerar que me culpem por não ser o suficiente para determinada situação. A partir de agora, vou tentar me concentrar em ser o suficiente para que eu viva em paz e siga derramando por aí, a absurda quantidade de amor que jorra de todas as minhas mais simples ações.
Por: Miriã Pinheiro



terça-feira, 19 de agosto de 2014

Hora do descanso

Mais um crepúsculo se avista,
mais um dia que se vai,
indo de encontro com o calar da noite.

Mais uma preocupação foi embora,
outras ficaram no aguardo,
esperando o novo dia
que sempre traz consigo uma nova oportunidade.

Problemas ficaram para trás.
Dúvidas? Melhor deixarmos para amanhã.

A noite chegou e com ela o silêncio.
Hora dedicada ao descanso.
Inspiração para as obras dos artistas,
solidão para a alma não encontrada.

A manhã virá e trará esperança.
O sol brilhará
e a vida ganhará uma razão!

Por: Miriã Pinheiro



Declaração

Eu pedi a Deus para você chegar
e docemente, você chegou.
Com carinho e ternura fez meu coração disparar
e cada segundo da minha vida magicamente se alegrou.

Como um anjo enviado,
a mim você se adaptou.
O meu beijo consegue te dizer calado
o tamanho do amor que você despertou.

Sou feliz por ser a dona
dos olhos mais escuros e meigos
e do cabelo mais macio!

Desde o primeiro olhar eu soube,
que em teu peito eu poderia sempre descansar
e do amor mais sincero, com você compartilhar.

Por: Miriã Pinheiro


Conclusão de um dia conturbado

Tenho tido a impressão de que tentar ser boa o suficiente é impossível e quase nunca funciona. Ter atitudes admiradas e virando alvo certo de elogios e puxa-saquismos tem se tornado um artigo cada dia mais desnecessário na minha lista de prioridades. Meu gosto nem sempre vai ser motivo para o agrado comum de gregos e troianos e nem será a razão da paz no Afeganistão. Minha tentativa de enquadramento nunca será a causa de festas pelo mundo e muito menos acabará com a fome da Terra. Por isso, cansei de tentar fazer o melhor para os outros e o pior para mim. Na ânsia de tentar agradar, tenho desagradado a mim mesma com tantas tentativas estúpidas de mostrar que não sou fútil, fraca ou insensata. Sou mulher e me considero livre. Estou muito distante de querer ouvir e sentir o estalo da chibata ou o discurso machista de qualquer um que queira podar às asas da minha liberdade. Lembrando que conheço muito bem a discutida diferença entre liberdade e libertinagem. E da segunda opção, posso dizer com a boca cheia que sou abertamente contra. Minha liberdade consiste no meu poder de escolha e de decisão. Quero decidir o que quero e na hora que quero. E se amanhã, por acaso, eu acordar com algo entalado na garganta, farei o impossível para mudar de ideia e de rumo. Da minha liberdade eu quero ser autora e dela quero ter o prazer de desfrutar sem o mínimo teor de culpa por querer ser eu mesma e comandar minhas atitudes. Teimosa, encrenqueira, maluca? Que nada! Pelo contrário, tenho tentando nos dias que se seguem, buscar o meu sublime e esperado lugar ao sol, sem precisar participar de discussões sem nexo ou empurrar quem já está na frente. Tenho plena e absoluta consciência do meu lugar e espaço naquilo que coloco a mão. E raramente, alguém me verá voltando para trás!
Por: Miriã Pinheiro



Stress

Vejo uma atrocidade.
Calo-me, respiro e conto até dez.
Mando embora a rispidez
e chuto para longe a vaidade.

Mas de nada adianta,
dali a pouco já estou chorando;
Durante muito tempo fico pensando
no meu complexo comportamento de anta.

E lá vou eu consertar,
e lá vou eu remendar
a nova cratera que desnecessariamente 
cavei na profundidade do meu consciente.

Por: Miriã Pinheiro

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Aula de Português

Chegar na sala, esperar a sala perceber sua presença, esperar que se sentem.
Fazer a chamada (25 minutos se passaram)

- Hoje iremos falar sobre os verbos ... professora, posso ir no banheiro?
- Retomando, hoje iremos falar sobre ... Ôh dona, o joaquim pegou minha caneta!
- Então, gente, voltando aos verbos... Maria, senta.
- Os verbos são as palavras que podem ser... Adalberto, guarda esse celular.
- Os verbos são as palavras que podem ser conju... Luciana, abre o caderno.
- Para se conjugar um verbo é nece... Carlos, sai da porta.

Bate o sinal.

Por: Miriã Pinheiro

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O amor de Camões

É impossível negar que desde tempos muito distantes, o amor é o tema principal de poesias, músicas, novelas, peças de teatro, pinturas e romances. Lembrando que ''romance'' não é, necessariamente, um gênero associado com o amor. Existem romances de aventura, ficção, policial, romântico e outros. 
Em tempos remotos, o amor já chegou a ser considerado como uma espécie de loucura; um sentimento que causava cegueira, como se fosse uma espécie de doença que chegava a levar o indivíduo apaixonado para a demência. Mas é óbvio que também surgiram hipóteses de que tal reação só poderia ser provocada pela paixão e que o amor, em si, era algo bem mais tranquilo e cheio de paz.
Dentre milhares de definições que podemos encontrar da palavra e do sentimento ''amor'', a definição de Luis Vaz de Camões é uma das que sempre me chamou mais atenção por ser racional, inteligente e bem mais lógica do que muitas outras que encontramos por aí. Para descrever o amor, Camões utiliza de paradoxos (ideias contrárias) e algumas antíteses para conseguir expressar a contrariedade do sentimento. 
O poema de Camões, na verdade se trata de um soneto (formado por 2 estrofes de 4 versos e 2 estrofes de 3 versos) e foi um dos inspiradores para a música Monte Castelo, composta por Renato Russo e cantada por sua banda Legião Urbana. Renato Russo usou além do poema de Camões, alguns trechos bíblicos do livro de Coríntios para caracterizar a sua definição de amor. 
O poema de Camões começa e termina com a mesma palavra: ''amor'' e é composto por dez silabas poéticas (versos decassílabos).

Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?

Podemos dizer que o poema nos faz entender perfeitamente a contrariedade do sentimento amor, que no ponto de vista do eu-lírico, é algo que faz mal, mas ao mesmo tempo acaba também fazendo bem.  ''É dor que desatina sem doer.'' Como uma dor pode desatinar e ao mesmo tempo não doer? Ah, isso só o amor é capaz de explicar! 
A última estrofe do poema parece ser a mais difícil de compreender e no meu ponto de vista é a que possui o mais belo significado. Como um sentimento pode causar amizade nos corações humanos, se é um sentimento tão contraditório a si mesmo? Essa é uma das possíveis interpretações que podemos ter da última estrofe. 
Luís Vaz de Camões (1524-1580) é considerado o maior poeta português e é autor da obra ''Os Lusíadas'', onde todos os cantos são escritos em estrutura poética, construiu o poema acima, aonde dá a sua belíssima e racional definição sobre o amor, além de usar e abusar da melhor forma possível dos recursos e figuras de linguagem da Língua Portuguesa. 
Por: Miriã Pinheiro

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A chuva que chega

Tempo que escurece,
dia que anoitece,
vento que estremece,
chuva que limpa os ares terrestres.

As águas que trazem com vontade
as gotas azuladas da preguiça.

O vento que bate na janela,
parece ser o mais inconsolável
dos elementos de uma futura esperança.

Água limpa que dos céus escorre,
que o nosso duro chão, sua umidade molhe.
Por sua ação, o campo colhe
e a tristeza e sequidão em nossa alma morre.

Por: Miriã Pinheiro




Terceirão

Dia desses, a professora substituta que vos fala, entrou pela milésima vez em uma determinada sala de terceiro colegial. É claro que não é a primeira vez que entro nessa sala e com certeza (e infelizmente) não será a última. 
A presença do terceiro colegial ainda está bem nítida na minha vida e na minha mente, já que mal fez três anos que concluí o meu ensino médio, porém tenho tido a experiência negativa de notar algumas diferenças gritantes entre o ''terceirão'' que vivi e o que hoje presencio como professora ''prostituta''.
Na maioria das vezes, os alunos do terceiro colegial estão ultra preocupados em adquirir conhecimento suficiente para conseguir passar em um vestibular de uma faculdade pública e de qualidade. Pelo menos esse é o sonho mais comum, mas também existem aqueles que querem passar em um vestibulinho técnico ou simplesmente prestar um concurso e conseguir um cargo público de qualidade. Todas essas opções são muito válidas, porém todas exigem estudo e dedicação.
Quando fiz o meu colegial, lembro-me de alunos desesperados, que devoravam livros de literatura com a avidez de um faminto. Prestavam atenção nos cálculos de matemática, como se isso fosse uma fonte de ouro e a solução para todos os problemas da vida. Mas, quando tive o desprazer de entrar pela primeira vez no ''terceirão'' da escola que dou aula, tive uma decepção do tamanho de um bonde. Foi lá que encontrei os alunos mais desinteressados e desmotivados que eu achei que poderia existir nesse mundão sem fronteira. Tudo bem que eu sou professora eventual e graças a Deus não estou lá todo dia e também não sou eu quem elaboro o conteúdo e fecho as decadentes médias deles, mas o cheiro da falta de vontade, a gente consegue sentir de longe.
Tentei levar palavras-cruzadas e caça-palavras relacionados com a Língua Portuguesa, tentei levar minha prova antiga do ENEM, tentei levar livros de poesias, contos e crônicas fáceis de interpretar de escritores famosos, tentei explicar o Romantismo e destrinchar com orgulho um poema da segunda fase, mas nada, até agora fez com que eu conseguisse obter o mínimo de êxito. Uma vez pedi para que fizessem uma redação curta sobre a Copa do Mundo. Expliquei sobre a estrutura do texto que queria que fizessem e sugeri assuntos, mas só recebi o texto de dois alunos, que inclusive o fizeram tão relaxadamente que eu seria incapaz de descrever tamanha negação. 
No entanto, deixando os conteúdos um pouco de lado, o que mais me incomoda nessa classe é o fato de serem os reis da falta de educação e de respeito. Quando eu estudava, lembro-me que não gostava de alguns professores, sejam eles eventuais ou não, mas nunca tive a pachorra de desobedecer ou ser inconveniente com qualquer um deles, pois sempre conheci o meu lugar de aluna. Agora, sou obrigada a pedir para que guardem o celular a cada minuto e tirem os fones de ouvido, já que estão mais do que carecas de saber que é estritamente proibido o uso desses aparelhos dentro da sala de aula
Começar a discutir qualquer assunto com essa turma é pedir para ouvir um ''a gente já sabe isso'' ou um '' nós já aprendemos isso há muito tempo'' ou ''não estou afim de escutar sobre isso''. A única coisa que estão interessados é em conversar futilidades entre si, mexer nas porcarias de seus aparelhos tecnológicos ou em ficar pedindo toda hora para sair da sala, como se ficar no pátio fosse a fonte de todos os prazeres.
Sei muito bem que não vou e também não quero mudar o mundo, mas tenho plena certeza de que algo saiu absolutamente errado com alguns jovens do dia de hoje. Eu, sinceramente, espero que o futuro deles não acabe sendo da maneira como eles o estão construindo.
Por: Miriã Pinheiro

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Conclusão de um dia qualquer

Tem dias que dá vontade de enfiar a cabeça debaixo da terra e permanecer ali, sem precisar olhar para as chatices que nos deparamos no decorrer do dia, sem precisar dever explicações para um punhado de gente que não te ajuda em nada. Há determinados dias em que nada parece fazer sentido e tudo aparenta ter uma pitada de erro. Existem momentos em que a dúvida bate à nossa porta, deixando-nos confusos, com a vista embaralhada e um tanto tristonhos por não saber qual a melhor decisão a se tomar diante de alguma situação desagradável.
Todo mundo já deve ter tido aqueles dias em que vinte e quatro horas parece ser muito pouco tempo para fazer tudo o que tem para ser feito, mas ao mesmo tempo parece ser muito tempo para aturar os diversos tipos e gravidades de dores de cabeça que surgem a cada minuto.
As vezes dá vontade de fugir, esconder-se dos compromissos que causam desespero e ansiedade. Correr, quem sabe, para bem longe de pessoas grosseiras, sem educação e aproveitadoras. 
Bom seria se todo mundo aprendesse a tratar o próximo da mesma maneira que gostaria de ser tratado. É muito fácil exigir respeito sem nunca na vida ter dado isso. O difícil é respeitar, aturar, relevar e sorrir para depois querer e poder exigir qualquer coisa de outrem. Ofensas, mesmo que algumas pareçam e talvez até sejam, no nosso ponto de vista, insignificantes, podem ser a origem das maiores dores e dificuldades dos seres humanos. 
A questão é que viver não é um tarefa assim tão fácil! Enfrentar o dia, concluir um trabalho e atingir um objetivo nem sempre é um mar de rosas. Infelizmente, não é sempre que estaremos cercados de pessoas de boa vontade e transbordantes de energias positivas, mas é sempre que podemos lutar da melhor forma que somos capazes, agradecer pelos resultados e deixar que a vida nos coloque no lugar adequado ao nosso esforço.
Por: Miriã Pinheiro

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Lugar do outro

Ganhei a vida quando comecei a me colocar no lugar dos outros. Sempre que vejo uma pessoa desajeitada com as palavras que fala, pedante nas atitudes ou errante nos atos, antes de começar a julgá-la , tento imaginar como deve ter sido a sua vida até aquele determinado momento. Imagino se teve oportunidades, educação, se recebeu todo o amor que esperava e necessitava na infância e até mesmo depois de adulto. Tento também, colocar-me dentro dos sapatos daqueles que aplicam ''certas atitudes''. Confesso que esse modo de agir, exige que eu tenha muito mais paciência do que acho que sou capaz de ter, porém me ajudou muito a exercer o autocontrole, a respeitar opiniões, críticas, desabafos em momentos inoportunos e fui acrescida de uma enorme compreensão pela natureza humana.
No mundo, existem centenas e até milhares tipos diferentes de personalidades e vivências. Cada ser carrega uma bagagem daquilo que compõe sua vida. Seja ela boa ou ruim, a bagagem é parte integrante e necessária na vida de qualquer ser humano. Foram as nossas vivências que nos transformaram naquilo que somos hoje. Foram nossas experiências, não importando se são empíricas ou filosóficas, que colaboraram na constituição do nosso conhecimento de mundo e na formação do nosso caráter. Somos o que somos porque temos motivos para isso!  Então, sempre que penso em julgar ou ofender alguém, tento imaginar do que é composto o ser da outra pessoa.
Durante a minha adolescência, passei por alguns momentos difíceis e conturbados que contribuíram muito na formação do que me tornei hoje. Houve situações em que ''submissa'' foi pouco demais para descrever meu comportamento, mas também teve outras em que extrapolei todos os limites da grosseria e da impaciência. O ser humano tem dessas coisas! No entanto, o amadurecimento me fez enxergar que alguns problemas não podem ser resolvidos por meio da ignorância. Decidi, então, aos poucos, que melhoraria minha maneira de tratar as pessoas e de tratar a mim mesma, já que sou a primeira pessoa digna de receber o meu próprio respeito e admiração.               
Colocar-se no lugar do outro e compreender seus sentimentos não é tarefa fácil, mas nunca é caro o preço que se paga para ter paz na vida. Algumas vezes, no calor dos piores e mais desagradáveis momentos, acabamos nos esquecendo de que o outro, assim como nós, também possui uma vida, uma família, um sonho, sentimentos e emoções. Preocupamo-nos em demasia em poupar nossa pele de situações ofensivas e constrangedoras, mas as vezes achamos que temos o direito de fazer isso com os outros. É clichê, mas é verdade, colocar-se no lugar do nosso próximo é uma fonte que despeja uma ótima quantia de paz e tranquilidade.
Por: Miriã Pinheiro

Soneto da Segunda

Segunda-feira,
primeiro dia da guerra,
primeiro passo para um sonho antigo,
primeira preguiça de um sono amigo.

Dia amarelo e de clima cinzento,
carrancudo e despretensioso.
Inaugura-se uma nova poesia,
começa-se uma autobiografia.

Hoje é dia de iniciar dieta,
deixar de ser pessimista,
assinar uma nova revista.

Hoje vamos parar de falar palavrão
e começar a semana direito,
pintando com o lápis da vida a cor do dia perfeito.

Por: Miriã Pinheiro

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Dois sentidos

Falei sem pensar,
gritei sentimentos,
soltei o ar.
                   
                                  Engoli seus gestos,
                                  absorvi suas palavras,
                                  aceitei seus restos.


                                                                     Vivi e amei seu mundo,
                                                                     chorei e entendi seus segredos,
                                                                     pulei e mergulhei em teu mar profundo.

                                               
                                                                                                                Do teu amor fui aprendiz,
                                                                                                                em teu peito meus dedos dançam,
                                                                                                                como se a vida fosse um triz.

Por: Miriã Pinheiro

Observação: O poema acima pode ser lido também de baixo para cima.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Mudança de planos

Decido algo hoje,
amanhã sou livre para decidir de novo.
E poderei mudar de ideia na manhã seguinte
ou voltar sem medo para a estaca zero
assim que a poeira juntar a hipótese do que virou farelo.

O papel eu tenho,
a caneta está farta de novas histórias
e a inspiração se renovará a cada segundo.
As frases estão prontas para serem lançadas,
as ideias já foram amorosamente repensadas.

No coração cabe
tanto a realidade quanto os planos vindouros.
Na mente as cenas passam e mudam
e se transformam em algo que nunca foram antes.
O sonho de ontem, nada mais é do que a tentativa dos errantes.

Por: Miriã Pinheiro

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Cotidiano enfeitado

Sou repleta de quereres tão simples que sempre acabo levando fama de complicada e inquieta. Mas, na verdade, complicado é quem não consegue compreender desejos tão singelos quanto os meus. Não quero caviar, algas marinhas e cogumelos. Não almejo conquistar um closet lotado e um arsenal de sapatos caros. Nem de longe penso em querer ter um carro de último modelo ou um apartamento de frente para o mar. Quero o simples, o palpável, o visível e o amável.
Quando criança, gostava de customizar minhas roupas e mochilas com cola glitter. Eram desenhos de corações, flores um tanto desajustadas, contornos irregulares e meu nome escrito em diferentes formatos de letras. Minha mãe, coitada, ficava com vergonha em ver a filha toda chapiscada de glitter, mas não havia meios de me convencer à dar cabo de tal mania. Cresci, não faço mais desenhos em roupas e mochilas, mas ainda gosto de ter o prazer e a ousadia de construir meu futuro e meu destino com as minhas próprias mãos com esmalte vermelho. Fico feliz quando posso mudar, adaptar, contornar uma situação e adequá-la até que fique exatamente do jeito que imaginei. Minhas pretensões são as mais simples que alguém poderia ter. Não desejo conquistar o inalcançável, o surpreendente e o mais cobiçado. Não estou afim de ganhar mil dólares por semana ou de viajar para a Europa todo o ano. O que eu quero é a simplicidade de um cotidiano enfeitado de balões coloridos e repleto de corredores decorados com as mais belas flores. Quero tirar a felicidade para dançar em uma noite de lua cheia e fazer dela minha eterna companheira de vida e de dança. Quero ser livre para correr nos corredores harmoniosos do meu cotidiano e esbarrar todo dia com a tranquilidade que tenho buscado por noites a fio. Correrei, esbarrarei, dançarei e da minha vida serei a  principal autora.
Por: Miriã Pinheiro

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Agosto

Agosto chegou!
Já posso sentir o cheirinho de terra seca no ar.
Já posso ver leves folhas marrons voando sem parar.

Dizem que agosto é o mês do desgosto.
Mas o coitado do agosto não acha justo tomar parte
das lágrimas do rosto que caíram a noite ou a tarde.

-''Coincidências acontecem!''-
Disse o mês com a boca toda suja de terra.
E ele não tem culpa, se o dia as vezes erra.

Que agosto seja o gosto
e que não haja desgosto
para aquele que todos os dias, acordar disposto!

Por: Miriã Pinheiro

Dia cinza

O dia amanheceu cinza no coração.
Não sei se vou, fico, continuo ou paro.
Não consigo decidir se quero ou não,
se deixo tudo como está ou abro mão!

Um vento áspero toca minhas costas,
um medo absurdo invade meu raciocínio.
Uma indecisão complicada mexe no íntimo,
fazendo com que eu deseje o estranho e o ótimo.

Nos véus da minha alma há um confronto
e busco continuamente a resposta.
Necessito de uma luz, um sinal de fumaça
ou um simples bilhete dos céus que me arranque essa mordaça.

Por: Miriã Pinheiro