quarta-feira, 30 de julho de 2014

Ao fim do caminho

 Ele olhou para ela. Ela olhou para ele. Olhares sempre são a causa e o princípio de muitas histórias. E com essa não será diferente. Dia quente e sem previsão de chuva, suor escorrendo e fazendo percurso nos mais variados formatos de testas humanas. Sapatos querendo fazer bolhas nos pés e roupas parecendo cada vez mais calorosas e apertadas, grudando vez ou outra, no corpo magro e branco de Alice. Foi assim que ela o conheceu. Sempre sentado no mesmo banco de pedra da praça de São Jerônimo, com a roupa encardida, chinelo trocentas vezes remendado, cabelo crescido e despenteado, rosto sujo e dentes amarelos. Mantinha um dos pés cascudos em cima do banco e o outro descansado no chão gasto. Foi assim que Augusto conheceu Alice. ''Moça dessa idade não dá importância à Zé ninguém'', pensava o garoto que mal completara treze anos, conhecido no bairro como ''Gutinho do piolho''. Gutinho não tinha mãe e menos ainda pai, fora criado por uma mulher da qual não se sabe o devido grau de parentesco que possui. Passou a infância toda sentado naquele banco de praça, ali era sua casa. Era ali que era alimentado, vez ou outra, por alguma alma caridosa, enxotado como bicho peçonhento ou analisado da cabeça aos pés por qualquer pedestre suficientemente curioso. De qualquer forma, era ali que passava a maior parte do tempo, portanto, era a sua casa. 
 Alice desfilava todas as tardes sua magreza em frente o banco de Gutinho, ainda que inconscientemente. Não era o tipo que olhava para os lados ou parava para falar com estranhos. Simplesmente passava e ia embora sem deixar rastros ou esperanças, como o vento seco do mês de agosto. Onde ela morava, Gutinho nunca soube e nem procurou saber. Não tinha ânimo suficiente para sair do conforto de seu banco e seguir uma menina magra e desinteressada. É claro que havia um pouco de medo na história. O que poderia acontecer se um menino de rua acompanhasse uma jovem? Gutinho conhecia perfeitamente o descaso que recebia das pessoas que ele costumava chamar de ''normais''.
Os dias cada vez mais quentes, como tudo na vida, continuaram a passar enquanto Alice exibia sua magreza e Gutinho observava tudo a sua volta com um dos pés em cima do banco. Queria muito olhar nos olhos daquela garota e ver mais de perto os traços que só via de passagem, mas a jovem nunca olhou para o lado.  O garoto tentou assoviar, cantar qualquer música que escutava no coreto para ver se obtinha uma resma daquela atenção que parecia impossível de ser chamada. 
 Um dia, resolveu que seguiria os passos de Alice e descobriria o destino de todas as tardes daquele corpo magro e quase albino. Respirou fundo, levantou discretamente como se fosse um cavalheiro medieval e tentou acompanhar a menina com passos silenciosos e um tanto distantes. Depois de andar quatro quarteirões, Alice abriu os portões de uma bela casa de dois andares e já ia entrando quando uma mulher gorda, bem diferente de Alice, exceto pelos olhos que eram igualmente pretos e saltados, olhou para Gutinho e cochichou algo no ouvido da garota que pela primeira vez na vida, pareceu conseguir olhar para trás. Gutinho tinha ouvido tudo, tudinho. A mulher gorda cheia de jóias disse: não vá contar ao seu pai que o bastardo dele veio parar aqui em frente hoje!
 As lágrimas escorreram pelos olhos de Gutinho quando viu a expressão de sarcasmo no rosto da gorda e o pequeno sorriso de Alice. As duas entraram em casa. Daquele dia em diante, Gutinho nunca mais foi visto pela população.
Por: Miriã Pinheiro

Branca Beleza

Tu és o fogo que desce pela minha garganta
ao mesmo tempo que rouba meus olhos
para sua pele tão branca,
facilmente comparável à lua que ilumina meus delírios.

A noite tem sido testemunha
dos suspiros que dou quando penso em teu singelo nome.
Esses campos frios, sombrios e silenciosos
só me deixam pensar na beleza de suas faces.

Quando deito, não durmo!
Vago pela mente nos mais reais sonhos
de um louco apaixonado,
completamente perturbado pela fúria do amor.

Por: Miriã Pinheiro

terça-feira, 29 de julho de 2014

O novo

Quero conhecer os encantos da vida
e mergulhar nos mais profundos dos segredos.
Quero provar da abundância de felicidade
de quem vive unicamente pelo prazer.

Enjoei de falsas risadas, conversas fiadas,
de inúteis e repetidas piadas!
O novo me puxa pela perna
e me apresenta o gozo da sinceridade.

Leva-me daqui, linda realidade!
Beije-me ardentemente com seus lábios de alegria
e derrame em mim os sorrisos e os dentes
dos que felizes caminham em direção ao pódio.

Por: Miriã Pinheiro

Soneto de Fuga

Perdida dentro de mim,
dando voltas de vontade em minha mente
e andando, ansiosa, de um lado para o outro
na plataforma do meu coração.

Tentando me encontrar dentro de mim mesma,
entendendo a fundo o meu conflito;
Tento mudar a direção
mas tudo o que vejo é a fumaça do que já foi.

Quem dera poder fugir de vez em quando,
deixar os pensamentos a Deus dará...
Sair lenta e sem hora para voltar.

Esconder-se por entre árvores de esperança
e conhecer os rios calmos que banharão o futuro.
Porém, não há escape na dureza da realidade.

Por: Miriã Pinheiro

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Ao escritor

O escritor coloca em rabiscos
o que ninguém consegue falar.
Cada linha é a imagem escrita
daquilo que emociona e faz amar.

Com o coração e algumas palavras
faz nascer a poesia.
Seja livre ou tenha rima
lemos tudo com louvor e cortesia.

A mão do escritor é consagrada
e da caneta faz nascer a esperança.
O papel se transforma em ouro
nas mãos de quem as palavras tem por herança.

Não importa se é terror, drama,
aventura, ciência ou amor;
o gênero em nada pode separar
os que unidos estão no mesmo labor.

Bendito seja aquele que escreve
e ao escrever descreve a alma.
Que a vida seja sempre inspiração
e que os versos tragam a calma.

DIA 25 DE JULHO: DIA DO ESCRITOR.

Por: Miriã Pinheiro

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Uma reflexão

    Acordei, levantei da cama aos tropeços e passei a mão em algo que prendesse essa juba de leão que insiste em achar que seu lugar é na minha cabeça! Fui em direção ao banheiro, ansiosa para lavar o rosto e dar aquela última e proveitosa espreguiçada. Porém, minha mania de reflexão em frente ao espelho acabou vindo à tona. Olhei para o pedaço de vidro pintado de alumínio pendurado atrás da porta e senti que dentro de mim algo não era o mesmo.
   Comecei imediatamente a buscar uma explicação válida e aceitável para toda aquela ansiedade misturada com preguiça e medo que eu estava sentindo naqueles últimos dias.
  Pensei que poderia ser as preocupações naturais da vida ou até mesmo aquele bendito cansaço psicológico que de vez em sempre, insiste em ficar alojado na minha caixa de pensamentos.
   Imaginei que poderia ser TPM, vontade de dormir mais um pouco, medo de alguma coisa que não sei dizer certamente o que é ou simplesmente uma ansiedade de ver logo a cara do fim de semana para poder me ver livre ou pelo menos quase livre de algumas obrigações.
   Acertei na mosca! Era essa última suposição que eu queria e continuo querendo até esse exato momento. É óbvio que não estou querendo exatamente ficar ‘’livre de obrigações’’ ou algo parecido, mas sim aperfeiçoar e melhorar um pouco a maneira como tenho levado a vida. Aguardo impaciente o dia em que vou poder dizer que sinto grande prazer em fazer o que faço. Está claro que estou me referindo a vida profissional. Não vou dizer que sou infeliz e ficar falando que não gosto de fazer o que faço ou que estou na profissão errada. É óbvio que não! Tenho certeza absoluta de que estou fazendo a coisa certa, porém sinto que ainda não encontrei a forma ou até mesmo a fórmula correta de exercer o que escolhi.
  Admiro muito aqueles que se sentem felizes e realizados com o que fazem. Fico escandalosamente emocionada quando me deparo com pessoas que dizem ter acertado na escolha da profissão e do local de trabalho. No entanto, algo ainda tem me deixado com um pé atrás e uma ou mais pulgas atrás da orelha.
    Sentir-se contente com o que faz é fator necessário na vida de qualquer ser humano que caminha por essa Terra maravilhosa e eu com certeza tomo posse dessa informação como se fosse um direito meu! E eu sei que é. Buscarei, aperfeiçoarei e sei que um dia encontrarei uma trilha e farei um caminho.
Por: Miriã Pinheiro

 

Dormir

Sempre acreditei que dormir fosse o ato mais nobre e prazeroso que nos foi concedido como uma amostra de um pequeno pedaço do céu nessa Terra problemática e preocupante. Desde que me entendo por gente, tenho uma imensa facilidade para pegar no sono e permanecer dormindo por horas a fio sem acordar nem sequer para ir ao banheiro. Sim, sou uma das poucas pessoas que não acordam para fazer nada!
Já ouvi muitas vezes que isso de querer dormir muito pode ser doença. E já fui ao médico inúmeras vezes, mas até agora nenhum diagnóstico decente. A verdade, é que posso ser eu mesma quando estou no meu sono de beleza. E não que eu normalmente seja outra pessoa quando estou acordada, mas sempre fiz a proeza de encarar o sono como uma resposta para muitas perguntas ou até uma bela pergunta para algumas respostas que pouco me interessam. Uma coisa é certa: se eu preferir estar com você do que estar repousando em minha aconchegante cama, sinta-se mais do que amado, feliz e honrado.
Tomada pela curiosidade de saber a origem de tanto sono, andei pesquisando e observei que já foi comprovado cientificamente que dormir alivia o stress e também faz com que elaboremos soluções para alguns problemas durante o decorrer do sono. E não é que é verdade! Quantas são as vezes que dormimos com uma dúvida e acordamos com uma certeza? Pois é, incontáveis.
É claro que qualquer coisa que se faça em excesso se transforma em puro veneno, mas dormir é um remédio do qual considero esplendido quando usado um pouquinho mais do que o necessário. Dormir traz paz, sossego e uma breve fuga daquilo que aprisiona e confunde. Então, bons sonhos!
Por: Miriã Pinheiro

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Doces sonhos

Doces sonhos que invadem meu raciocínio,
fazendo-me flutuar em céus de azul suave
e descansar em brancas nuvens
recheadas de alegrias e fascínio.

Lindas memórias do que ainda não vivi,
povoam minha extensa imaginação,
deixando-me entender com mais clareza
que o hoje, sobrevivi.

Que o relógio derrame e faça escorrer
preciosas pérolas de ajuda e determinação.
Que o tempo me traga o sonho que hoje nasce
e ilumine o impossível daquilo que um dia ei de viver.

Por: Miriã Pinheiro

terça-feira, 22 de julho de 2014

Alma do poeta

Uma lua não é só uma lua,
uma rua também não é qualquer rua.
Um beijo é mais do que um beijo
e um sonho sempre é maior do que um sonho.

Para o poeta a luz é sempre mais alva
ou as trevas um pouco mais negras.
O poeta vê alegria em um jardim
e no papel em branco uma tristeza.

A alma que exala poesia
busca lembranças em ventos
e músicas em trovoadas.
Canta ao som das ondas do mar
e respira com frescor cada gota de chuva.

A poesia está na alma,
naquela alma que tem olhos para o mundo,
o infinito e o invisível.
Ser poeta é dar vida aos momentos
e fazer do sentimento um personagem palpável.

O poeta pinta a vida da cor que bem entender
e fala de dores sem nem mesmo viver.
Com rima ou sem rima,
sua vida fabrica amor,
enfeitando com palavras, a flor do esplendor.

Por: Miriã Pinheiro

Meu coração

Tenho um coração sensível,
mas também corajoso.
Carrego dentro dele
a manha de um galã charmoso.

Meu coração é casa e hospital,
as vezes é orfanato ou prisão.
Mas sempre será a alegria
de quem para amar lhe dá razão.

O coração é um órgão cheio de significados:
amor, compaixão, emoção e solidariedade.
Porém, meu coração permanece o mesmo
apesar do medo, do desejo e da idade.

Esse meu órgão bate em busca de verdade,
palpita querendo uma certeza,
abre espaço esperando resposta
e enxerga no futuro a felicidade e a beleza.

Por: Miriã Pinheiro

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Dúvidas e mais dúvidas

Um dia, gostaria de poder mergulhar dentro de mim e conhecer todos os meus segredos. Sim, eu sei que tenho segredos meus que nunca conheci de verdade. Tenho muita vontade de conseguir decidir o que verdadeiramente quero ou não para a minha vida. Queria ter coragem suficiente para dispensar qualquer coisa que me fizesse mal ou que me trouxesse dúvidas. Adoraria poder desenrolar esse emaranhado de ideias que se misturam constantemente dentro do meu cérebro recheado de poesia e música. Gostaria de ter tendência a optar sempre pelo mais fácil e menos complicado, pois gostaria muito de ter a cabeça e o coração um pouco mais leves e tranquilos do que tem sido nos últimos dias.
 Houve momentos em que tudo o que eu queria era me mudar de dentro de mim e tentar ser outra pessoa um pouco mais despreocupada, livre e consequentemente mais feliz. Assim como quase todas as pessoas do universo, eu também passo por dias e mais dias em que nada parece estar bom ou no lugar exato. Tem dias e noites que fico lembrando que quando era criança, nunca imaginei que passaria por um momento tão confuso como o de agora. Confusão que não me deixa decidir e assumir as consequências daquilo que quero. Dúvida que se une com a confusão na tentativa de não deixar que eu decida se vai ser assim mesmo ou se vou mudar tudo até que fique ao meu gosto. 
Por: Miriã Pinheiro

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Pensamento da noite

A noite, ao colocar a cabeça no travesseiro,
penso e sonho com meu futuro.
Imagino e desejo que tudo ficará bem,
que a felicidade terá presença confirmada,
com ou sem o consentimento de alguém.

Quando o cansaço me deixa frágil,
peço a Deus que me dê ânimo,
que eu enfrente tudo de cabeça erguida
e que nada que aconteça nesse mundo
interfira na paz que quero ter na vida.

Busco e espero por minha tão sonhada alegria.
Tenho anseio em sentir a tal felicidade.
Enjoei de dar ouvidos a quem nada de bom traz.
As vezes é necessário arriscar,
quem erra é sempre melhor do que quem nada faz.

Por: Miriã Pinheiro

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Maria

Quando cheguei a cozinha,
notei Maria tristonha.
Sei que muito lembrava,
dos tempos de risonha.

Se eu pudesse curá-la
de todos esses tormentos,
levaria-lhe toda a dor,
e abandonaria aos mil ventos.

Maria ainda sabe sonhar,
sente que pode viver.
Sabe que logo passa
todo medo de vencer.

Quantos somos marias,
sempre com o medo vivo.
Deixar de lado é bom,
a dor do afirmativo.

Por: Miriã Pinheiro



terça-feira, 15 de julho de 2014

Roqueiro

Roqueiro, sempre com calça desbotada,
camisa preta surrada,
olhar de menino pidão.

Belos lábios de sorriso um tanto inocente,
Palavras sinceras escapam, vez ou outra, por entre seus dentes.
Mãos quentes, acolhedoras  e dispostas.

Roqueiro, quero acariciar seus cabelos,
E vê-los soltos e despenteados,
Contra o vento do meu coração.

Venha, e faça meu coração disparar
Fazendo dueto com a sua guitarra.
Ouvindo sua voz rouca, ei de começar a amar.

Por: Miriã Pinheiro

Pedido de socorro

Preciso que alguém me ajude a alçar um novo voo,
pois me sinto atada e presa em algo que não me faz bem.
Não compreendo o motivo,
mas algo dentro de mim implora por socorro.

As vezes penso no quanto gostaria de voltar um pouco atrás
e com mais calma, recomeçar de uma outra maneira.
Gostaria de me livrar das amarras que sufocam meu miserável ser
e com mais certeza, tirar os pés do chão.

Preciso cultivar a leveza em minha alma,
não suporto mais o peso da bigorna do medo.
Queria poder voar e encontrar verdes pastos,
sair, para sempre, dessa prisão inconsequente.

Necessito de um novo passo,
uma nova dança, uma música mais bela.
Imploro dia e noite por uma resposta,
mas de onde estou agora, não escuto nenhuma voz.

Por: Miriã Pinheiro

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Introspecção

Houve certas manhãs em que acordei e não sabia onde estava,
ou quantos anos tinha e o que tinha que fazer naquele dia.
Já levantei correndo achando que tinha que pegar o ônibus para ir a escola estudar,
mas quando dei por mim, estava lembrando de coisas que antes eu fazia.

Há dias que amanheço meio perdida,
não sei bem quem sou,
se enlouqueci ou dormi demais.
Pego-me tentando limpar o leite que um dia derramou.

Tento olhar para mim,
mas já não me reconheço.
Quem um dia fui,
sei que hoje desconheço.

O espelho não parece dizer a verdade,
encara-me carrancudo e choroso,
como se me incentivasse a sair de perto dele.
Abro a janela e espero por um dia chuvoso.

Saio e tento voltar a mim,
pergunto as pessoas da rua se elas já me viram.
Ninguém parece se lembrar ou se importar,
com aqueles que do medo ressurgiram.

Por: Miriã Pinheiro

Escrever

Encontro na escrita o mais belo refúgio para minha alma que vive esgotada de tanto fazer reflexões automáticas sobre a vida, a existência e a felicidade. Escrever é o mais nobre ato que descobri para expor a mim mesma, demonstrando em forma de palavras, minhas emoções exacerbadas. Quando escrevo, meu coração fica iluminado. Não porque penso em coisas bonitas e sublimes, mas porque posso ser eu mesma quando tenho as palavras em meu domínio. Sinto que não escrevo as palavras, mas elas me escrevem. Conhecem mais de mim do que talvez eu delas. Abrem-me de maneira delicada e única, fazendo-me entender o desconhecido mar que sempre habitou dentro de mim. As palavras são minhas pedras preciosas. Deixá-las presas dentro de mim, seria egoísmo e tortura para ambas as partes!
Quero deixar fluir de dentro de mim esse rio de sentimentos. Rio de águas claras e as vezes escuras. Rio limpo, sincero e amoroso, mas nem sempre cristalino.
Escrever é limpar, varrer e retratar os mais pequenos, detalhados e sensíveis átomos do pensamento. Escrever é deixar ser usado pelas palavras, letras e verbos. A escrita é a mais verdadeira demonstração de liberdade. 
Seguirei meu caminho na busca contínua pelas palavras certas. Deixarei que elas me descrevam e sei que sempre estarão a minha disposição nos mais silenciosos momentos de tormento e confusão. Eu escrevo e as palavras me escrevem. Escrevi, escrevo, escreverei e continuarei escrevendo. Farei de todas as palavras, as minhas palavras e seguirei dançando ao som de fonemas e versos. 
Escreverei para livrar minha alma. Escreverei para salvar minhas ideias, traduzir minhas dores e completar meu coração. Escreverei e encontrarei a liberdade, pois quem escreve é livre!
Por: Miriã Pinheiro

Alívio

Do mais tormentoso esforço
creio que virá a recompensa.
Sei que o cansaço será respeitoso
e que toda luta sempre compensa.

Não farei da opressão minha companheira,
nem da angústia minha irmã.
Desde agora, lacro meus ouvidos perante a ilusão.
E deixo o último espaço para a dor derradeira.

Saia daqui o desprazer!
Deixem-me as vozes agoureiras!
Quero a virtude de quem prestígio acrescenta.
E o sabor de, enfim, conseguir um bela proeza exercer.

Por: Miriã Pinheiro

sábado, 12 de julho de 2014

Amanhã

Dia de amanhã: pequeno ramo de oliveira que um pássaro traz no bico, 
livro que ainda não foi escrito, árvore que não foi plantada.
O dia de amanhã é um mapa a ser estudado,
uma proposta esperando ser analisada.

É uma porta que ainda não foi encontrada,
um anel que um dia será ganhado.
Um sonho de quem ainda não dormiu,
o tormento de quem não quer viver desesperado.

O dia que está por vir sairá da cartola,
aparecerá ao abrir das cortinas vermelhas do teatro.
Nascerá feliz no seu pequeno mundo em formato de bola.

Vagará confiante como o pensamento da criança,
chegará alegre ao pé do ouvido
e nos dará tempo de correr para pegar a próxima dança.

Que o globo gire e nos conceda um novo amanhã.
E que não seja novo apenas de nome,
mas que faça da história uma bela façanha.

Por: Miriã Pinheiro




sexta-feira, 11 de julho de 2014

Espera

Dia mais dia tenho esperado o melhor do futuro,
jovem que é jovem é movido por sonhos.
O sofrimento, a angústia e a lágrima devem ser passageiros.
É preciso acreditar e deixar de ter o coração duro.

Os anseios e as vontades crescem por minuto,
as palavras embaralham-se tentando formar uma hipótese.
A vida segue traçando seus planos,
tudo terá o dia certo e o momento absoluto.

Lavar a mente, relaxar o coração e soltar os nós da garganta,
talvez seja a solução para aliviar a opressão do pensamento.
A alma que padece na ansiedade e no medo só ganha dor e infelicidade,
o melhor é estender as mãos e aguardar o fruto da planta.

Quantas lágrimas escorrem e ficam perdidas para sempre
na imensidão de emoções que jorram dos olhos?
Lágrimas não representam, nem provocam bons resultados.
Melhor cultivar coisas boas e deixar que a esperança entre.

Por: Miriã Pinheiro

O morro dos ventos uivantes

Não vou embora!
Não quero deixar sozinho o meu amado.
Não tive coragem de soltar meu sentimento,
magoei-lhe ontem e vou me livrar desse pensamento, agora!

Cansei de vagar sozinha pela charneca,
vim buscar o meu amor!
Meu coração já não existe, minha vida acabou,
o sonho da minha alma o vento levou em um capricho de boneca.

Meu amor me espera, ansioso.
Sua vingança está acabando.
Andei a caminhar por entre seus sonhos,
são eles os mais tristonhos suspiros de um caprichoso.

Voltarei, enfim, ao cigano de minha alma.
Colocarei fim ao meu tormento.
Encerrarei esse pesadelo regado a vento gelado.
Heathcliff, meu amado, em breve devolverei sua calma.

Por: Miriã Pinheiro

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Cansaço psicológico e problemas escolares

O cansaço psicológico é o pior tipo de cansaço que existe na face da Terra. Você sabe que está bem e descansado fisicamente, porém sua mente está trabalhando a mil por hora, fazendo com que você fique exausto de tanto matutar naquilo que você tem que se preocupar em fazer (ou não). 
Último semestre da faculdade já está dando as caras, trazendo consigo o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) e seiscentas maravilhosas horas de estágio em escolas. Logo, chegará o momento de dizer adeus às férias e tudo recomeçará novamente da mesma forma (melhor, eu espero). Só de imaginar que a vida sofrida de professor eventual está retornando a minha porta, bate uma vontade imensa de se trancar no quarto e ali permanecer o resto do ano. Sim, essa vida não é nada fácil. Se os benditos dos professores efetivos (e velhos) já não estão conseguindo dar conta da molecada, imagina o coitado do eventual que tem menos respeito do que os latões de lixo do pátio da escola. Pior ainda é ser uma professora jovem ou uma jovem professora, acho que dá no mesmo! Apesar, de que me deparo sempre com eventuais de meia idade que são tão desrespeitados quantos os jovens como eu. 
 A verdade, é que não dá para esperar muito dos adolescentes de hoje. O respeito é algo que está em falta no mercado da educação já há algum tempo e a tendência, infelizmente, é piorar cada dia mais. Certa vez, ouvindo uma conversa por aí, escutei algo que me chamou muito a atenção. Alguém disse que ''a educação não é para todos e sim para quem quer.'' Acho que essa frase deveria ser a definição de tudo o que está acontecendo. O erro começou quando proibiram a criança e o adolescente de trabalhar. Você pode até dizer que haviam muitas crianças que gostariam de estudar e que eram exploradas cruelmente, por isso veio a lei da proibição do trabalho infantil. No entanto, como poderemos obrigar alguém a estudar? É uma questão difícil, já que muitos adolescentes dizem na cara dura que preferiam muito mais estar na rua vendendo sorvete do que dentro de uma escola olhando para o infeliz do professor. Você pode dizer também que o elemento em questão não está na idade adequada para trabalhar e menos ainda na idade de decidir o que quer para a própria vida, porém não é certo ele atrapalhar a vida de outrem por ser obrigado a usufruir de um direito que quer abrir mão. 
A educação é um direito de todos, mas não são todos que servem para compartilhar desse direito. Não são todos que sabem valorizar os materiais didáticos e todos os recursos do governo que são investidos na educação. Há quem pense que esses materiais são uma bela de uma porcaria, porém eu digo que não. Até há alguns anos não havia esse material. Hoje, as crianças ganham cadernos e outros materiais escolares de qualidade para fazerem uso durante o ano letivo. As apostilas são razoáveis, porém os livros didáticos são excelentes. Todos os anos, recebem também um belo kit com livros de literatura. O ensino é bom e é melhor ainda para quem tem vontade de aprender. A escola é boa e tem sido boa até demais para o tipo de gente que tem recebido ultimamente. O único problema é a extrema valorização da quantidade e o esquecimento total da importância da qualidade dentro de uma instituição de ensino.
Por: Miriã Pinheiro

Amor pela poesia

Por você sinto minha vida pulsar
Olhos que jamais deixarão de inspirar meu coração;
Encaixando em meu ser, cada peça dos meus sonhos.
Serei eternamente sua, minha dama companheira!
Imaginarei que tu caminhas ao meu lado em todos os momentos.
Amarei suas palavras e desejarei ainda mais conhecer seus segredos.

Eternamente quero atender seus pedidos.
Uma vez mais, brincarei com as palavras, adotando seu belo nome.

Trabalharei pensando em ti,
Estudarei para desvendar seus mistérios.

Arduamente seguirei cantando seus versos
Mandarei seus sinais para quem quiser ouvi-los.
Obedecerei seus comandos e fielmente morarei em ti.

Por: Miriã Pinheiro

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Chuva

A chuva cai suave lá fora, despejando levemente
seus pingos macios e esperados.
Que chova a chuva mansa
e lave a alma dolorida dos condenados.

Misturam-se chuva e vento,
unindo-se com o objetivo de trazer novos ares.
Tornam-se uma as gotas de água e a brisa gelada,
acalmando dentro de mim os tormentosos mares.

Que a chuva lave a terra e não tenha medo
de derramar pingos de esperança em nosso chão.
Chuva mansa, vida suave, vento que levemente bate.
Venha, chuva! Encharque sem dó, as gavetas do meu coração.

Por: Miriã Pinheiro 

Mafalda: a crítica que não envelhece

Todo mundo pode dizer que uma vez ou outra na vida já se deparou com alguma tirinha da famosa garotinha do cabelo volumoso. É muito comum encontrar tirinhas da Mafalda nos livros didáticos de Língua Portuguesa de todas as séries e é mais fácil ainda encontrá-las nas provas de concursos públicos. A verdade, é que essa garotinha é mais conhecida do que nota de um real pelo fato de sempre ter uma pergunta e uma resposta ideal para todas as situações na ponta de sua língua afiada. 
A personagem foi criada por Quino, um desenhista argentino, por volta de 1968. Seu maior objetivo é contestar e discutir por meio dos quadrinhos humorísticos, temas polêmicos nas mais diversas épocas. Mafalda, logo na primeira leitura, transmiti-nos sua curiosidade contagiante de menina de seis anos e uma enorme inquietação política. No entanto, existem pesquisas que afirmam que Mafalda não foi criada com o objetivo de retratar a situação em que se encontrava a Argentina, mas com o tempo foi adquirindo um tom crítico, usando a sua inteligência como forma de contestação.
Mafalda é uma garota como outra qualquer que tenta encontrar uma explicação palpável para as coisas da realidade. Porém, suas dúvidas são voltadas para os problemas sociais, as desigualdades e conflitos políticos. 
Dentro dos quadrinhos de Mafalda, podemos observar também o comportamento de seus amigos. Cada um possui uma determinada personalidade e um jeito diferente de enxergar a realidade, mostrando como realmente são as pessoas da sociedade. 
Com toda a sua fama claramente crítica, Mafalda foi se destacando cada vez mais em muitos países, inclusive no Brasil. A linguagem de suas tirinhas é altamente compreensível e é incrível como as questões debatidas ainda sejam tão atuais nos dias em que estamos vivendo. Suas histórias pararam de serem produzidas no ano de 1973, porém suas críticas e principalmente o seu humor inconfundível, continuam e continuarão a persistir enquanto o mundo for capaz de compreender os seus mais sinceros recados de menina questionadora. 
Por: Miriã Pinheiro

terça-feira, 8 de julho de 2014

Cultura

É muito comum ver por aí um monte de gente sem conhecimento criticando a cultura do Brasil e outros até achando que ela não existe. Dizem que só pensamos em carnaval e futebol. E sim, é verdade. Mas não é porque a população tem um conceito errado de cultura, que podemos afirmar livremente que somos um país sem cultura. Cultura é a história e os costumes de um povo e assim como todos os povos, nós também temos uma cultura. E não, ela não é somente composta por carnaval e futebol. Para quem não sabe, o carnaval não tem origem brasileira e nem sempre foi organizado da maneira que é atualmente. A ideia da festa sempre foi proporcionar diversão por meio de bailes, desfiles e danças com máscaras. No entanto, decidiram que vulgarizar a festa tornaria a comemoração mais amada e assistida, transformando-a na maior festa do Brasil. E é verdade que o Brasil gosta de ver uma bunda suada na televisão. A bunda é a diversão nacional!
Com relação ao futebol, posso dizer que obviamente tenho pouco ou nenhum conhecimento sobre o assunto, mas é um pouco triste considerá-lo como ''o maior espetáculo da Terra''. Admiro muito a seleção brasileira e em todos os momentos torci de todo o coração para que ganhássemos o Hexa. Somente o maior dos ignorantes seria capaz de dizer que não torce para o Brasil só porque não gosta de futebol. Não gostar de futebol é uma coisa, ir contra a torcida da sua nação é outra totalmente diferente. A propósito, com relação a perda do Brasil para a Alemanha, prefiro acreditar que a seleção fez tudo o que pôde para que o jogo fosse diferente, mas infelizmente não deu certo. E o pior é ver nos telejornais um bando de idiotas dando uma de vândalo por causa da derrota. Sabedoria não é o forte desse povo, com certeza!
Mas deixando um pouco de lado o futebol e o carnaval (coisa que muita gente deveria fazer), quero ver se consigo ressaltar um pouco alguns dos aspectos que fazem de nós um povo com cultura, sim senhor! Primeiro de tudo, pense no que você faria se tivesse que passar o resto da vida comendo macarrão. Pense em como se sentiria se nunca mais comesse arroz e feijão e nunca mais provasse uma feijoada. Nossas comidas, assim como nós, foram resultados de uma mistura de vários elementos. Os portugueses não conheciam a feijoada, ela é resultado da mistura que os escravos faziam com os restos de carne que lhes eram concedido. Portanto, a feijoada é literalmente uma comida brasileira, por isso faz parte da nossa cultura.
Quando o assunto é Literatura, os leitores de plantão com certeza já leram algo considerado Literatura Brasileira. Todo mundo já está cansado (ou pelo menos deveria) de ouvir falar de Machado de Assis. Sim, o escritor que precisa ser dividido em três fases para ser estudado, é brasileiro. Se formos falar sobre os poetas, seriam necessárias cinquenta postagens de blog, já que é imenso o arsenal de poetas maravilhosos que contribuíram fielmente com a formação da nossa literatura e mais ainda no enriquecimento da nossa cultura. Existe cultura maior do que Literatura? Não importa a época ou o movimento a que pertence, a Literatura faz parte da história de um povo. Literatura é sinônimo de identidade.
Pior ainda é escutar nego falando que música brasileira não presta. E seria verdade mesmo, dependendo da música, é óbvio. Porém, seria tolice afirmar que não temos música boa! A MPB (música popular brasileira), como o nome já diz, é inteiramente nossa e possui infinitas canções maravilhosas. Seria até desagradável citar dois ou três nomes, quando é imenso o estoque de poetas que temos e tivemos dentro da nossa música. A MPB é um mistura de ritmos africanos, indígenas, cantigas populares, fanfarras militares, músicas religiosas e até europeias.
Sem dúvida alguma, ainda existem muitos fatores que formam, colaboram e fazem parte diretamente da composição da nossa cultura. E para quem acha que não, eu digo que sim. Nós temos uma cultura e uma cultura muito rica, misturada e exuberante como toda cultura deve ser. Os personagens folclóricos, por exemplo, é um pedaço importantíssimo da nossa história, deixar de passá-los às gerações seguintes seria um erro imperdoável. O Brasil é rico e abençoado. É maravilhoso viver em um lugar onde terremotos e furacões são praticamente lendas. Não tome os problemas sociais dos país como falta de cultura. Educação, saúde, moradia e trabalho são problemas sociais e não culturais. Não culpe os canais de televisão se você é o primeiro a dar ibope. Não confunda problemas sociais com culturais. Procure, sobretudo, exaltar o que seu país tem de bom. A política, com certeza, não é ruim só aqui. Bandidos, não existem só aqui. Problemas não são exclusivamente brasileiros. 
Por: Miriã Pinheiro

Gabriela

''Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim.'' (Dorival Caymmi)

 Sempre que paro para pensar sobre meu jeito e algumas de minhas atitudes mais banais, acabo tendo ainda mais certeza de que sofro do ''complexo de Gabriela''. Não estou nenhum pouco presa a risos, gargalhadas ou críticas sem fundamentos. Odeio perder meu tempo com conversa fiada e gente sem objetivo. Tenho pavor de ficar desperdiçando saliva com quem nada tem para acrescentar, a não ser vergonhas, invejas e decepções. Não estou nenhum pouco disposta a participar de reuniões que incluam pessoas viciadas em qualquer tipo de droga que converta seu comportamento já ridículo por natureza em algo ainda muito pior e indecente. Não tenho o menor saco para aturar gente vazia que tenta se encher de qualquer coisa que encontra pela frente. Minha tolerância não existe para quem acha que a vida é um Reality Show! Eu sou assim: arcaica, ultrapassada e conservadora.
Eu nasci assim e não vou perder o sono só por engordar alguns quilos ou por ter saído de casa com o cabelo molhado. Não vou abaixar a cabeça se for surpreendida na rua de chinelo verde e calça desbotada. Sem dúvidas, não ficarei com vergonha em falar que tenho estrias como qualquer outra mulher de carne e osso e menos ainda em dizer que não sou louca por sapatos. 
Talvez, seja a maior novidade dizer que estou pouco me lixando para horóscopos e que saber que sou de Touro, jamais seria suficiente para prever minhas atitudes.
Quando o assunto é cozinha ou casa, tenho que dizer que me sinto muito bem cozinhando e não tenho medo de que pensem que sou tapada ou submissa. Desde quando gosto é sinônimo de submissão? Sou tão submissa que prefiro abolir os filmes de romance e dar lugar para os de terror, já que emoções fortes me definem melhor. 
Pedir para os outros fazerem o que eu tenho que fazer também é assunto delicado. Ninguém parece fazer tão bem minhas coisas quanto eu mesma. Dou o melhor de mim em tudo o que faço e sempre almejo a primeira colocação. Eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim, Gabriela, sempre Gabriela.
Por: Miriã Pinheiro

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Alfinete

Cansada do cansaço que se apodera
da mente vazia e as vezes desocupada.
Cansada de pensamentos meio vagos,
que me sufocam na esperança de me manter calada.

Dores pequenas que alfinetam o coração.
Dores pequenas, miúdas e inconvenientes.
São as pequenas raposinhas que destroem as vinhas,
esgotando desde as plantas dos pés até aos cantos dos dentes.

Ilusão querer moldar a vida aos nossos desejos!
Fantasia mirabolante querer uma constante felicidade,
que não fosse embora nem na hora de tomar um xarope,
que permanecesse, mostrando sua lealdade.

Quero impedir as alfinetadas da vida,
que fazem de mim uma boneca sem escolha.
Não quero mais sentir nenhum alfinete,
Deixem, de uma vez por todas, de me compararem a uma frágil bolha!

Por: Miriã Pinheiro






sexta-feira, 4 de julho de 2014

Imaginação

Imaginação: eis o dom mais belo!
Imaginar que se está na lua, caminhando calmamente.
Imaginar outros lugares, outras brisas,
climas amenos, solos firmes.

Imaginar uma poesia doce a soar nos ouvidos
já cansados de ouvir as próprias lamúrias.
Imaginar, por fim, um coração que vive transbordando
amor, tranquilidade e pequenas belezas.

Imaginar que se imagina.
Deixar que o pássaro azul da alma encontre o seu abrigo
e volte feliz e orgulhoso dos ninhos que criou.
Deixar que escorram pelos olhos, os desejos mais profundos.

Aprender a fazer sozinho o transbordar da vida.
Construir qualquer alicerce com as próprias mãos,
deixando que o próprio barro nos instrua.
Permitir que o céu seja a morada dos anseios humanos.

Por: Miriã Pinheiro

Inimigo

Eu, que observo vagamente as metamorfoses da vida,
acabo ficando com medo do relógio.
Eu, que vibro com cada mudança,
pego-me pensando em tentar escapar do receio.

Quando o cansaço me invade,
relembro o quanto gostaria de ter sido melhor,
feito melhor, levado as coisas mais a sério.
Choro, então, a dor da incompetência.

Já foi comprovado: o inimigo mora ao lado.
Pior, o inimigo mora dentro.
O inimigo é tocável e não invisível.
Lutar com ele nem sempre é vantajoso.

Noites são sinônimos de reflexão e cura.
Tudo fala mais alto quando o céu está escuro.
No entanto, as estrelas não gostam de nos dar ouvidos.
Ninguém ousa se meter na luta com o inimigo enrustido.

Por: Miriã Pinheiro