Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Cecília Meireles
Releitura: Espelho
Esse espelho não reflete o rosto de ontem,
essa lágrima, até então, desconhecida,
esse olhar sombrio e interrogador
que distorce meu semblante confuso.
Eu não tinha essa expressão secreta,
tão misteriosa, longínqua e dura;
eu não tinha esse medo
de um dia me enxergar desse jeito.
Eu não percebi tal mudança,
tão abundante e enigmática:
- Afinal, de que mundo saiu
esse espelho?
Por: Miriã Pinheiro
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