terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Meu inocente coração



Naqueles dias em que a vida me dá um choque da realidade triste e lamentável da existência que temos como seres humanos, acabo sempre numa reflexão sobre a preciosidade da fase da infância. Começo imediatamente a sentir falta da época em que eu achava que a morte não existia na vida real, apenas em filmes, novelas e nos livros de romance que eu sempre gostei de ler. Frequentemente me lembro da reação que eu tinha quando escutava as notícias ruins do telejornal. Achava que tudo aquilo só existia em cidades grandes e que aqui no interior tudo seria sempre mil maravilhas e todos viveriam felizes e livres de perigo eternamente. Recordo-me do quanto gostava de fantasiar como seria minha adolescência e vida adulta. Eu imaginaria que cresceria e me transformaria em uma mulher linda, loira, independente, magra e feliz assim como a Barbie. Eu poderia jurar que um dia encontraria um príncipe encantado loiro de olhos azuis, rico, compreensivo e que me amaria eternamente. E eu teria dois filhos: um menino e uma menina, muito lindos, educados e obedientes. E eu seria cantora ou dançarina, já que estava muito bem adiantada nas minhas turnês pelo banheiro e quarto. E tudo sempre daria certo, nada daria errado e não haveria motivos para existir tristeza. A vida seria um eterno sorrir debaixo da chuva de janeiro, brincando de achar que a enxurrada era o maior oceano da face da Terra. O mundo seria para sempre rosa e meu príncipe seria uma estrela do rock.
Quando eu era pequena, achava que se eu me jogasse de um prédio seria impossível morrer. Achava que havia cura para todas as doenças e eu sempre poderia fazer qualquer coisa, nada seria inatingível, tudo poderia ser meu. Mas a vida, essa garota mal-educada, tira da gente nosso mais precioso sorriso ingênuo e troca pela malícia insaciável das pessoas grandes. Um dia, acordei e aprendi que todas as pessoas morrem, inclusive eu, um dia, morreria também. Entendi o quanto vivemos em uma condição limitada e absurdamente humana, a ponto de ser considerada ''desumana''. Notei que a maioria das notícias dos telejornais eram verídicas e que esses acontecimentos não gostavam muito de escolher um lugar para acontecer, mas sim preferiam acontecer em qualquer lugar que lhe dessem na telha. Tive que aceitar que o mundo nunca me pertenceria e eu nunca poderia conquistar tudo o que quisesse e seria impossível caminhar pelo arco-íris. Minha adolescência e vida adulta seria repleta de problemas, os quais somente eu teria que resolver. Minha vida não seria sempre mil maravilhas, meu príncipe encantado não seria perfeito e minha família não seria como a dos comerciais de margarina. Meu sorriso nem sempre seria sincero e a dor viria, vez ou outra, fazer uma visita neste simples coração alimentado de alegrias.

Por: Miriã Pinheiro






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