sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Quem roubou?

As vezes somos jovens. Sentimo-nos felizes, relaxados e sorrimos sem parar. Achamos que a vida é uma brincadeira sem fim. Levantamos dispostos pela manhã, cantamos as mais estranhas músicas, assistimos aos mais diversos gêneros de filmes e amamos intensamente tudo o que cai no nosso caminho. Nossa paixão é ardente e nosso amor é profundo. Mas, de repente, alguma coisa acontece. Acordamos em um belo dia e percebemos que falta algo. Alguém veio e puft, roubou nosso sorriso! Levou embora nosso olhar de simplicidade, nossa alegria insana e despreocupada e nos deixou a ver navios pela janela do quarto. Aquele sentimento de felicidade, antes tão comum, irreverente e automático, parece se transformar em algo dissimulado, desenfreado e desnecessário. Você acaba por se sentir idiota sendo feliz daquele jeito juvenil e incoerente.Você se sente uma carta fora de todos os baralhos do universo. E ficamos só nós. Nós e nosso peito furado, de onde arrancaram com toda força, o que nos levava para frente. Quem roubou? Não sei. Não tive tempo de perceber. Quando dei por mim, já estava aqui, sentindo-me adulta, rabugenta, desconfiada e cheia de compromissos. Assim que percebi que me faltava algo, já era tarde, já levaram tudo o que eu tinha dentro do peito. E essa enorme cratera vazia que habita o peito, não pode ser preenchida pelo dia-a-dia. Ela precisa de algo mais! 
Quem escreve, acaba acostumado à dramatizar. E eu, obviamente, não sou nenhum pouco diferente dos demais ''dramatizantes'' ou porque não ''dramaturgos'' da vida. Dramatizo a dor e acrescento-lhe poesia para ser uma ''dor enfeitada'' ou uma ''dor poética''. Sou perfeccionista. Acho que até as minhas mais insignificantes dores devem ter a obrigação de serem bonitas!
E o meu drama de agora é esse: voltar a possuir a inocente alegria juvenil que outrora habitava esse meu peito revestido de pele branca. Quero de volta o que é meu por direito e que deixei escapar por nem saber que possuía tão profunda beleza em meu ser. Se eu soubesse que era dona dessa beleza, não teria gritado sua existência aos quatro ventos. As vezes nós achamos que algumas coisas não são roubáveis. Doce engano! Tudo o que se pode possuir, também pode ser roubado!

Por: Miriã Pinheiro




Nenhum comentário:

Postar um comentário