sexta-feira, 13 de junho de 2014

Conto de terror: O susto de Marcelo

        Já era madrugada e Marcelo não conseguia pegar no sono. Rolava e rolava em sua cama de solteiro, como se a mesma estivesse cheia de espinhos ou alguma espécie de inseto que lhe picasse a carne. Era a segunda noite de sua família na nova casa. Na noite passada havia sido a mesma coisa: não pregara os olhos. Era incapaz de compreender o motivo, já que se sentia muito cansado e tinha trabalhado muito para alguém que estava sem sono. A noite anterior foi suficiente para deixar-lhe com olheiras. Essa noite, pelo que tudo indicava, não seria diferente. Cansado de se revirar, Marcelo levantou, acendeu a luz e meio aos tombos de cansaço, arrastou uma caixa cheia de livros de todos os gêneros, os quais pensou em arrumar um lugar na estante assim que amanhecesse. Marcelo era amante de livros. Revirou a caixa e logo veio a sua mão ''Noite na taverna'' de Álvares de Azevedo. Havia ganhado aquele livro de um colega mas ainda tinha lido. Resolveu, então, iniciar a leitura. Acostumado a ler histórias de vampiros, do Drácula e terror de todos os tipos, percebeu que ''Noite na taverna'' seria tão assustador quanto!
      Enquanto estava concentrado em sua leitura, Marcelo percebeu um barulho que parecia vir da sala. Pensou que alguém teria acordado para tomar água ou algo assim. Continuou, tentando retomar a concentração, quando de repente, ouve outro barulho, parecido com passos fortes de soldados. Impressionado, Marcelo interrompe a leitura, fecha o livro e fica atento, olhos arregalados para o nada. O que seria aquele barulho e será que ele realmente estava vindo da sala? Logo pensou em seu irmão caçula, dado a fazer ''pegadinhas'' com todos os que viam em sua frente. 
     O barulho pareceu cessar, no entanto, o medo ainda mantinha seu lugar. Marcelo achou melhor desistir de ler ou fazer qualquer outra coisa e tentar dormir, já que estava precisando muito e deveria se esforçar para conseguir descansar pelo menos por algumas horas. Apagou a luz e voltou para a cama. Já deitado, levantou a ponta da cortina ao lado de si para ver como andava a iluminação da noite naquele lugar deserto. Era pouca! Sentado na cama, ficou olhando ao longe, tentando captar todos os detalhes da nova moradia. Concluiu que não tinha vizinhos, pois a casa mais próxima ficava a uns três quarteirões dali, no entanto, o lugar ainda era considerado uma zona urbana, só que parecia estar literalmente abandonado e a margem do mundo. Marcelo se sentia no meio do nada! Observando o lugar, Marcelo notou a presença de pontos brancos e salientes no chão, vindo desde muito longe e chegando até embaixo de sua alta janela de segundo andar. Notou também que alguns pontos brancos pareciam ter formato quadrado e alguns tinham uma cruz desenhada ou ao lado. Imaginou ser um cemitério abandonado. Começou a se sentir zonzo, tinha pavor de cemitérios e sabia que havia algo de errado naquela casa, afinal, seu pai a comprou por um preço de banana.
       Marcelo, confuso e com medo de estar no meio ou dentro de um cemitério, abaixou a cortina, deitou-se na cama e cobrindo todo o rosto com o cobertor, decidiu que tinha que dormir logo e de uma vez por todas. Meia hora depois estava adormecido. Permaneceu assim por mais quatro horas, quando pulou da cama com o toque estridente do despertador. Eram sete horas, estava cansado, dormira pouco e tivera um sono agitado. Hoje seria seu dia de folga, mas havia prometido a mãe que levaria o irmão para a escola e organizaria os objetos da casa que ainda estavam em caixas, portanto, tinha mesmo que levantar.
       Durante o café, perguntou a mãe:
__ Vocês saíram alguma vez para olhar o quintal?
__ Demos uma olhada rápida, filho. Por que?
__ Estava olhando pela janela ontem e percebi que o terreno todo está repleto de túmulos, isso é um cemitério.
__ Não vai me dizer que está com medo disso? Aqui foi um cemitério, mas faz uns cinquenta anos que ninguém pisa aqui, foi abandonado junto com a casa. Seu pai disse que tentará se livrar de boa parte dos túmulos, mas não sei de que jeito. O importante é que agora temos uma casa e é o que nosso dinheiro pôde pagar.
__ Não concordo em morar em um cemitério. Essa casa devia ser do caseiro que olhava o cemitério. Adivinhei?
__ Adivinhou!
         Quando todos saíram, Marcelo quis inspecionar a casa. Desceu ao porão e começou a abrir as gavetas de um antigo armário de madeira. Quase desmaiou quando encontrou retratos de mais de cem anos, velas de várias cores, cruzes e um caderno totalmente amarelado. Abriu e leu a primeira página. Entendeu que era onde constavam os nomes dos mortos daquele lugar. Sentiu ânsia, frio na barriga, tontura e medo de estar sozinho e o pior, morando em um cemitério abandonado. Queria acreditar que tudo aquilo era uma piada, que estava sonhando ou que era fruto de sua imaginação. Mas o cheiro de morte daquele lugar não o deixava pensar em outra coisa. O próprio portão da casa era de cemitério, como não relacionou isso antes?
        Saiu correndo, queria ultrapassar aquele portão horroroso e sair daquele lugar o mais rápido possível mesmo que não soubesse nem tivesse para onde ir. Chegou ao portão, mas estava trancado. Voltou para casa para ver se sua mãe havia deixado a chave, mas as portas da casa também estavam trancadas, somente a portinha que acabara de sair do porão estava aberta e esta não levava para dentro de casa. Ficou aflito, desesperado e começou a gritar sem parar. Estava sozinho e preso entre centenas de túmulos. Em meio aos berros e suor, acordou, estava deitado em sua cama dentro de sua bela casa amena e sossegada, cercada por vizinhos gentis. Pegou o celular e olhou o calendário para saber que dia era e em que ano estava. O pesadelo parecia ter durado séculos. Era sexta feira 13.
Por: Miriã Pinheiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário