quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Terceirão

Dia desses, a professora substituta que vos fala, entrou pela milésima vez em uma determinada sala de terceiro colegial. É claro que não é a primeira vez que entro nessa sala e com certeza (e infelizmente) não será a última. 
A presença do terceiro colegial ainda está bem nítida na minha vida e na minha mente, já que mal fez três anos que concluí o meu ensino médio, porém tenho tido a experiência negativa de notar algumas diferenças gritantes entre o ''terceirão'' que vivi e o que hoje presencio como professora ''prostituta''.
Na maioria das vezes, os alunos do terceiro colegial estão ultra preocupados em adquirir conhecimento suficiente para conseguir passar em um vestibular de uma faculdade pública e de qualidade. Pelo menos esse é o sonho mais comum, mas também existem aqueles que querem passar em um vestibulinho técnico ou simplesmente prestar um concurso e conseguir um cargo público de qualidade. Todas essas opções são muito válidas, porém todas exigem estudo e dedicação.
Quando fiz o meu colegial, lembro-me de alunos desesperados, que devoravam livros de literatura com a avidez de um faminto. Prestavam atenção nos cálculos de matemática, como se isso fosse uma fonte de ouro e a solução para todos os problemas da vida. Mas, quando tive o desprazer de entrar pela primeira vez no ''terceirão'' da escola que dou aula, tive uma decepção do tamanho de um bonde. Foi lá que encontrei os alunos mais desinteressados e desmotivados que eu achei que poderia existir nesse mundão sem fronteira. Tudo bem que eu sou professora eventual e graças a Deus não estou lá todo dia e também não sou eu quem elaboro o conteúdo e fecho as decadentes médias deles, mas o cheiro da falta de vontade, a gente consegue sentir de longe.
Tentei levar palavras-cruzadas e caça-palavras relacionados com a Língua Portuguesa, tentei levar minha prova antiga do ENEM, tentei levar livros de poesias, contos e crônicas fáceis de interpretar de escritores famosos, tentei explicar o Romantismo e destrinchar com orgulho um poema da segunda fase, mas nada, até agora fez com que eu conseguisse obter o mínimo de êxito. Uma vez pedi para que fizessem uma redação curta sobre a Copa do Mundo. Expliquei sobre a estrutura do texto que queria que fizessem e sugeri assuntos, mas só recebi o texto de dois alunos, que inclusive o fizeram tão relaxadamente que eu seria incapaz de descrever tamanha negação. 
No entanto, deixando os conteúdos um pouco de lado, o que mais me incomoda nessa classe é o fato de serem os reis da falta de educação e de respeito. Quando eu estudava, lembro-me que não gostava de alguns professores, sejam eles eventuais ou não, mas nunca tive a pachorra de desobedecer ou ser inconveniente com qualquer um deles, pois sempre conheci o meu lugar de aluna. Agora, sou obrigada a pedir para que guardem o celular a cada minuto e tirem os fones de ouvido, já que estão mais do que carecas de saber que é estritamente proibido o uso desses aparelhos dentro da sala de aula
Começar a discutir qualquer assunto com essa turma é pedir para ouvir um ''a gente já sabe isso'' ou um '' nós já aprendemos isso há muito tempo'' ou ''não estou afim de escutar sobre isso''. A única coisa que estão interessados é em conversar futilidades entre si, mexer nas porcarias de seus aparelhos tecnológicos ou em ficar pedindo toda hora para sair da sala, como se ficar no pátio fosse a fonte de todos os prazeres.
Sei muito bem que não vou e também não quero mudar o mundo, mas tenho plena certeza de que algo saiu absolutamente errado com alguns jovens do dia de hoje. Eu, sinceramente, espero que o futuro deles não acabe sendo da maneira como eles o estão construindo.
Por: Miriã Pinheiro

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