quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O amor de Camões

É impossível negar que desde tempos muito distantes, o amor é o tema principal de poesias, músicas, novelas, peças de teatro, pinturas e romances. Lembrando que ''romance'' não é, necessariamente, um gênero associado com o amor. Existem romances de aventura, ficção, policial, romântico e outros. 
Em tempos remotos, o amor já chegou a ser considerado como uma espécie de loucura; um sentimento que causava cegueira, como se fosse uma espécie de doença que chegava a levar o indivíduo apaixonado para a demência. Mas é óbvio que também surgiram hipóteses de que tal reação só poderia ser provocada pela paixão e que o amor, em si, era algo bem mais tranquilo e cheio de paz.
Dentre milhares de definições que podemos encontrar da palavra e do sentimento ''amor'', a definição de Luis Vaz de Camões é uma das que sempre me chamou mais atenção por ser racional, inteligente e bem mais lógica do que muitas outras que encontramos por aí. Para descrever o amor, Camões utiliza de paradoxos (ideias contrárias) e algumas antíteses para conseguir expressar a contrariedade do sentimento. 
O poema de Camões, na verdade se trata de um soneto (formado por 2 estrofes de 4 versos e 2 estrofes de 3 versos) e foi um dos inspiradores para a música Monte Castelo, composta por Renato Russo e cantada por sua banda Legião Urbana. Renato Russo usou além do poema de Camões, alguns trechos bíblicos do livro de Coríntios para caracterizar a sua definição de amor. 
O poema de Camões começa e termina com a mesma palavra: ''amor'' e é composto por dez silabas poéticas (versos decassílabos).

Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?

Podemos dizer que o poema nos faz entender perfeitamente a contrariedade do sentimento amor, que no ponto de vista do eu-lírico, é algo que faz mal, mas ao mesmo tempo acaba também fazendo bem.  ''É dor que desatina sem doer.'' Como uma dor pode desatinar e ao mesmo tempo não doer? Ah, isso só o amor é capaz de explicar! 
A última estrofe do poema parece ser a mais difícil de compreender e no meu ponto de vista é a que possui o mais belo significado. Como um sentimento pode causar amizade nos corações humanos, se é um sentimento tão contraditório a si mesmo? Essa é uma das possíveis interpretações que podemos ter da última estrofe. 
Luís Vaz de Camões (1524-1580) é considerado o maior poeta português e é autor da obra ''Os Lusíadas'', onde todos os cantos são escritos em estrutura poética, construiu o poema acima, aonde dá a sua belíssima e racional definição sobre o amor, além de usar e abusar da melhor forma possível dos recursos e figuras de linguagem da Língua Portuguesa. 
Por: Miriã Pinheiro

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