quinta-feira, 28 de agosto de 2014

2014: Centenário de Augusto dos Anjos

Esses dias, lendo sobre algumas curiosidades do ano, descobri que 2014 é o ano de comemoração do centenário da morte do poeta Augusto dos Anjos, que faleceu no dia 12 de novembro de 1914.
Augusto dos Anjos era paraibano e aprendeu as primeiras letras em casa, com o seu próprio pai. Mais tarde fez o curso secundário e formou-se advogado, mas não chegou a advogar. Vivia apenas de ensinar Português e lecionava no Liceu Paraibano. Depois de alguns desentendimentos com o governador, foi afastado do cargo de professor e acabou se mudando para o Rio de Janeiro, com o intuito de seguir o magistério.  No Rio, lecionou em diversos lugares, mas nunca conseguiu se efetivar como professor. Em 1911, morre prematuramente o seu primeiro filho com Ester Fialho, com quem casou-se em 1910. Depois, no final 1913, muda-se para Minas Gerais e assume a direção de um grupo escolar, além de continuar dando aulas particulares. 
Augusto dos Anjos possui um único livro, chamado de ''Eu'', que foi publicado em 1912. O livro possui aspectos parnasianos e também alguns traços simbolistas. No entanto, esse livro foi praticamente ignorado e criticado pelo público da época, já que fala sobre morte, podridão e os limites do corpo humano. O livro só conseguiu alcançar novas edições, graças a Órris Soares, que era amigo e biógrafo do autor. 
Para o poeta, as coisas naturais causam nojo e o amor se transforma em ódio. Augusto dizia que nunca conseguiu ser capaz de amar uma mulher e sua obra faz uma anulação de sua própria pessoa e mostra o seu desejo de conhecer outros mundos e outras forças, onde não haja a ação da natureza, que tudo transforma em pó. 
O livro ''Eu'' deixou de lado os assuntos belos e comuns, para usar um vocabulário científico e não usado na poesia. Com o tempo, Augusto dos Anjos, tornou-se um dos poetas mais lidos do Brasil, sobrevivendo às críticas e ganhando um pouco mais da aceitação popular. O poeta faleceu com apenas trinta anos de idade, vitimado pela pneumonia. 
A seguir, deixo um dos poemas mais famosos e comentados de Augusto dos Anjos. E claro, sou suspeita de falar que é um dos meus preferidos.

Psicologia de um vencido  

Eu, filho do carbono e do amoníaco, 
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas 
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra! 

Repare que o poema é construído na forma de soneto (2 quartetos e 2 tercetos) e com certeza, mais pessimista do que isto, só dois disto!
Uma frase famosa, que já vi diversas pessoas mencionarem sem nem sequer imaginar de que é um verso de Augusto dos Anjos é: ''Ai! Um urubu pousou na minha sorte.''
Hoje, se formos analisar, uma pessoa com comportamento parecido ao de Augusto dos Anjos, só poderia sofrer de algum distúrbio psicológico e é claro que existem relatos sobre essa possibilidade. O poeta era uma pessoa nervosa e pessimista, sem muita perspectiva de vida, talvez por causa de decepções na carreira e na infância ou até mesmo pela morte do filho. Porém, é impossível negar que seus escritos possuem algo de exclusivo e impactante, provocando reflexões sobre a vida, a morte, o trabalho da natureza e até mesmo a análise comportamental de uma pessoa que se encontra sem objetivos.
Augusto dos Anjos, apesar de não ter tido seu talento reconhecido em vida, deixou um legado de poemas diferentes e complexos no seu único livro: ''Eu e outras poesias'', além de ter o seu lugar garantido no estudo e na leitura da nossa Literatura Brasileira.

Por: Miriã Pinheiro




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