sábado, 30 de agosto de 2014

Abandonei...

Em algumas horas, sou quase toda tomada de uma saudade insana de algo que não sei dizer exatamente o que é. Talvez seja saudade de algum vento macio que um dia bagunçou meus cabelos ou das gotas de um chuvisqueiro charmoso e geladinho que um dia escorreu no meu rosto. Desde que, como dizem por aí, entendo-me por gente, sempre me senti ou me achei um pouco estranha. Mas não é estranha no sentido ruim, mas talvez também não seja para o bom sentido. Ser estranho nem sempre é elogio, porque ninguém gosta muito de receber tão simplista adjetivo. 
As vezes, quando decido que vou usar algum perfume que há muito não uso, logo na primeira esguichada do líquido, já começam a dançar mil lembranças em minha mente. Lembranças do que fiz e onde estive, tendo aquele perfume como ''trilha aromática''. Imediatamente fico possessa de uma sensação que não sou capaz de explicar se é boa ou ruim. Ao mesmo tempo bate aquela alegria em reviver rapidamente alguns momentos bons e de repente, quase simultaneamente, bate uma leve depressão por saber que tudo aquilo já passou e nunca mais vai voltar. Você pode até fazer as mesmas coisas, mas aquele momento é aquele momento e este é insubstituível. E o que acho mais estranho em mim não é a sensação que acabei de descrever, até porque tenho certeza que uma ou outra pessoa deve saber do que estou falando. Mas sim o fato de ter abandonado muitas roupas, perfumes, bolsas, sapatos e ideias, artigos antes tão usados e amados, que hoje me causam uma sensação mista entre repulsa e carinho. Algumas roupas parecem me levar para lugares que não faço mais questão de estar. Alguns sapatos me levam de volta ao caminho de pessoas que jurei que nunca mais passaria perto. E alguns perfumes me trazem cheiros de uma antiga esperança que outrora se misturou à indiferença. Algumas ideias também já foram deixadas de lado para dar espaço às novas e nunca pensadas. Tenho quartos escuros e abandonados dentro de mim. Carrego gavetas secretas,  trancadas e uma sujeirinha aqui e outra ali. Sou transporte principal de emoções e sentimentos. Possuo uma carga incontável de sensações e pensamentos. Mas apesar de tudo isso, tenho tido uma única certeza: em certas coisas, não faço mais questão de mexer.

Por: Miriã Pinheiro

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