quarta-feira, 2 de julho de 2014

Limpeza

''Se pudesse abrir a cabeça, tirar tudo para fora, arrumar direitinho como quem arruma uma gaveta. Tomar um banho de chuveiro por dentro.''
(Caio Fernando Abreu)

Quem nunca leu o pensamento citado acima e quase ficou louco de tanto que se identificou? Tenho certeza de que a maioria das pessoas, já imaginou o quanto seria bom poder abrir a cabeça e tirar tudo o que está vagando lá dentro e colocar cada coisa em seu devido lugar, além de poder fazer uma completa faxina naquilo que fosse desnecessário. Sem dúvida alguma, Caio F. Abreu sabia muito bem como transformar suas brilhantes ideias e seus reais sentimentos em palavras fáceis de compreender, deixando que o leitor ''colocasse os pés em seus sapatos'' e entendesse o quanto os sentimentos humanos são parecidos.
Trazemos isso para a nossa vida e pensamos o quão bom seria se pudéssemos fazer uma faxina em nossas emoções. E até podemos, só que não é tão simples quanto dizem os psicólogos e seus afins. Colocar nossos pensamentos, emoções e sentimentos em seus devidos lugares e eliminar o desnecessário não é tão fácil o quanto parece. Se pararmos para refletir por alguns minutos, chegaremos a conclusão de que dentro de nós existem velharias cheias de teias de aranha, da qual não usamos mais, mas ainda temos uma certa dificuldade em nos desfazer. Desfazer do que já foi fincando em nosso interior é um processo bem complexo, porque sempre tem algo que já está embutido em nosso ser e é difícil se livrar tanto por uma forma de apego, quanto pela dificuldade em descolar algo que já está bem colado.
A maioria de nós passa o tempo todo remoendo mágoas passadas, acumulando dores desnecessárias e cultivando o que já passou da hora de jogar fora. Além de tudo, temos a incessante mania de ter medo de situações que provavelmente nunca ocorrerão. Ficamos com aquele pressentimento, aquele pensamento atrevido nos cutucando sem haver a menor necessidade dele estar ali.
É extremamente complicado se livrar do inútil, mas todo esforço é válido quando o objetivo é ''tomar um banho de chuveiro por dentro''. Não podemos mais viver na corrosão, na miséria psicológica e no medo fantasioso, precisamos limpar e deixar que escorra a vontade a água encardida da aflição.
Por: Miriã Pinheiro

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